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A palavra personalidade
deriva de persona, do etrusco, pessoa, porém, era utilizada para designar as
máscaras que os atores utilizavam para representar seus personagens no
teatro. Desde o primeiro instante em que o homem passou a conviver em
sociedade, precisou aprender a, eventualmente, abrir mão de sua “personalidade”
para representar outros papéis, não significando que se transforme em várias
pessoas, mas simplesmente formas de se mostrar ao mundo.
Precisamos esconder certos
instintos, pensamentos, palavras e atitudes para viver em
sociedade. Representamos eventualmente, e dispomos de um
arsenal de máscaras para sobreviver em casos de emergência. Não necessariamente
artefatos para cobrir o rosto como faziam os atores etruscos. Máscaras
exprimindo posturas diferentes que facilitem o desempenho dos vários papeis
existenciais que nos são exigidos – pai, filho, amigo, vizinho,
namorado, profissional.
Estas oscilações não
significam que sejamos falsos ou más pessoas, e sim, maneiras de assumir
posturas diferentes adequadas a contextos distintos. Não vejo problema
algum nesta alternância eventual, desde que a essência seja mantida, não
ocultem o verdadeiro caráter e as intenções sejam nobres, pois cumprem papel
importante na vigilância dos costumes e organização de uma comunidade. Assim
como nos aviões, em caso de emergência, podemos utilizá-las como recurso para
nos proteger e beneficiar.
Entretanto, a pior das máscaras, a que me incomoda e que deveria ser banida, é aquela que o lobo veste pele de cordeiro. Pessoas que utilizam seu próprio rosto como máscara para transmitir a impressão de puras, honestas e confiáveis, enquanto acobertam segundas e terceiras intenções. Falam ou agem de uma maneira, porém estão pensando ou sentindo o inverso. Fingem amor, disfarçam felicidade, simulam interesse, aparentam posses, escondem insegurança, sorriem plastificadamente, choram lágrimas de crocodilo, exibem fachadas. Não mostram nem intenção, nem identidade. Hipocrisia pura. Representação permanente.
A inteligência permitiu
ao homem conhecer muito do mundo a sua volta, no entanto, o mundo interior das
pessoas continua sendo um grande enigma. Este espaço privado é íntimo e
inviolável e só podemos ter acesso a ele, se nossa entrada estiver autorizada e
formos convidados. Ainda assim, na melhor das hipóteses, conheceremos apenas a
sala de entrada deste castelo. Como então saber quando o outro está sendo
sincero ou representando? Como perceber as verdadeiras intenções do outro?
Se tentarmos decifrá-lo
através da nossa razão, de nosso modo de pensar, construiremos uma imagem a
nossa semelhança, o outro se tornará parecido conosco e o perderemos. Além
disto, a compreensão humana recebe influência da vontade e dos afetos, que
colorem e contaminam os entendimentos. Os homens acreditam mais facilmente
naquilo que gostariam que fosse verdade.
O problema agora já
não reside apenas na possível dissimulação do outro. Também somos responsáveis
por nos deixar enganar. Sinto dizer, mas esta é mais uma das tantas incertezas
da vida que precisamos suportar. Não há escapatória.
Mesmo sabendo que
milhões de pessoas enganarão e outras tantas serão enganadas, não vale a pena
gastar tempo e energia tentando decifrar os outros. É preciso ter humildade em
relação à complexidade da vida. Se cada
um souber dar e usufruir a exata importância dos valores humanos, pelo menos
poderemos ser felizes, pois para ser feliz não são necessárias máscaras, para
sobreviver sim.
A intenção do carnaval era inverter a ordem social para que as pessoas, escondidas atrás das mascaras,aproveitassem os quatro dias de folia, liberassem seus instintos reprimidos e ficassem no anonimato. Pois aconteceu exatamente o contrário, durante o carnaval as pessoas retiram suas máscaras, mostram quem realmente são, recolocando as máscaras na quarta feira de cinzas e vestindo-as durante todo o ano. Talvez por isto se diga que o Brasil é o pais do carnaval.
ResponderExcluirAdorei essa parte final:" Mesmo sabendo que milhões de pessoas enganarão e outras tantas serão enganadas, não vale a pena gastar tempo e energia tentando decifrar os outros. É preciso ter humildade em relação à complexidade da vida. Se cada um souber dar e usufruir a exata importância dos valores humanos, pelo menos poderemos ser felizes, pois para ser feliz não são necessárias máscaras, para sobreviver sim." Elza Leal Acosta Leal
ResponderExcluirSe aprovarem as biografias não autorizadas, muitas máscaras cairão... Já tem muitos amedrontados com essa possibilidade... Não só por terem rabo preso mas também por problemas de rabo solto...
ResponderExcluirBelíssima analogia! O que sei EU de mim mesma? Saberia vislumbrar algumas vitórias, alguns erros e desenganos, como mensurar a complexidade de uma vida cheia de surpresas? A única verdade é a de que existimos e estamos sujeitos a julgamentos, e muitas vezes, sem mesmo ter o direito de se expressar, mas isso faz parte. Mas o que vale é a proposta de vida, trajetória, a tentativa de se melhorar como ser, uma contínua restruturação. Acessar a alma humana realmente é algo que surpreendente. A quem deveríamos dar este consentimento? Isso poderá depender da expectativa de cada indivíduo, seria uma construção, a confiabilidade, o respeito que o outro possam transmitir, ou até mesmo o equilíbrio entre atos e naquilo que se diz, ou um trânsito de reciprocidade. Porém essa é a minha visão de mundo. Existem tantas outras...
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