sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

O "Sim" que vale por um "Não"


Vou iniciar contando uma piada antiga, a diferença entre o político e a mocinha. Quando o político diz “sim”, significa “talvez”. Quando fala “talvez”, quer dizer “não”, e quando diz “não”, deixa de ser político.  Por outro lado, quando a mocinha diz “não”, tem o significado de “talvez”. Quando fala “talvez”, quer dizer “sim”, e quando diz “sim”, deixa de ser mocinha.

Sem entrar no mérito da piada, a intenção foi apenas ilustrar quantas vezes dizemos “sim”, quando na verdade gostaríamos de falar “não” e vice versa. Será que é mais fácil dizer um “sim” que um “não”? Dizer “sim” não demanda muitas explicações, mas dizer “não” quase sempre exige uma justificativa. Em tese, se você concordar e aceitar terá maiores chances de agradar e ser bem quisto pelos outros.

Por isto, algumas pessoas dizem “sim”, mas terminam agindo como um “não”. Você não queria ir à praia, mas não conseguiu recusar o convite. Vai mas fica emburrado o tempo todo, sequer pisa na areia. “Sim” verbalizado e “não” na atitude. O contrário também é verdadeiro. Você diz que não vai  comprar mais nada até o final do ano, na outra semana chega em casa com uma linda bolsa  adquirida por uma bagatela na liquidação. “Não” prometido e conduta de “sim”. Pode estar havendo uma espécie de conflito entre consciente e inconsciente que se manifesta por um engano entre o verbal e o comportamental.

Para evitar estas contradições, inventaram a palavra “talvez”, que não significa nem “sim”, nem “não”. Na verdade não significa nada. Você não sabe o que responder, então lança mão do “talvez”, que funciona como sinônimo de não sei, tanto faz, é possível. O que é pior, escutar um “sim” que significa “não” ou um “talvez” que não significa nada?

A chave para esta questão está na coerência entre intenção, atitude e verbo. Os três precisam estar alinhados. Imagine como seria fácil se o “sim” e o “não” exprimissem exatamente aquilo que cada um pensa, sente ou fala  e somente fossem ditos nestas condições. A piada da mocinha e do político não existiria e as relações seriam bem mais tranqüilas.

Ao “talvez” sobrariam então apenas aquelas situações específicas onde em determinado momento estaríamos convictos de um “não”, mas acenaríamos com a possibilidade de se transformar em um “sim” futuramente. Hoje o prisioneiro não tem liberdade, mas se houver bom comportamento, talvez possa sair da prisão.

“Sim” ou “não” são afirmativas e negações que mudam toda uma existência e não devem ser ditos sem convicção. Precisam demonstrar firmeza, certeza, clareza, segurança. “Sim”, aceito casar com você. “Sim”, você foi aprovado. “Não”, vou largar este emprego. O talvez é inútil, serve só para fragilizar nossa auto-estima.

Não existe um número perfeito, um equilíbrio ideal entre “sim” e “não” ao longo da vida. Certamente serão muitos, e precisam ser bem mais numerosos que as incertezas do “talvez”.  “Sim” e “não” precisam ser sinceros, mas necessariamente não precisam ser eternos. Que assim seja!


. 


2 comentários:

  1. Uma mãe sabe dizer não para educar um filho, alias dizemos mais não do que sim... E ouvimos mais não do que sim na infancia. Por que essa dificuldade na vida adulta? Querendo agradar a todos esquecemos de nós. Para dizer sim aos outros dizemos não para nós mesmos... Quem sabe o talvez ...

    ResponderExcluir
  2. Concordo com as questões dos "SIM" OU "NÃO". Quantos "Não" tive que dizer para manter padrões morais em determinadas circunstâncias de minha vida, que hoje possivelmente não se sustentem mais.E quantos "Sim" que me arrependi até o último fio de cabelo. A vida nos dá oportunidades de ver os dois lados da moeda, mas ao arremessá-la existe a probabilidade de 50% do certo e do errado, dos enganos e dos acertos. Seguir em frente com toda esta experiência de saber que nem tudo está certo e nem tudo está na categoria do errado, e que a existência poderá se movimentar em direção a um novo recomeçar a qualquer momento. Isso acalenta minha alma.

    ResponderExcluir