sexta-feira, 29 de julho de 2011

A diferença entre enrolar e resolver

Estudo realizado na Universidade de Stanford (EUA) demonstrou que alunos de um professor péssimo, aprenderão em média, durante o ano, o equivalente a meio ano letivo da matéria. Por outro lado, alunos de um professor excelente, aprenderão durante este mesmo período, o equivalente a um ano e meio da matéria. Isto representa um ano de estudo a mais ou a menos para os estudantes.
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Para que este professor ruim alcançasse o mesmo progresso obtido pelo professor excelente, uma das providências seria a redução da turma de alunos pela metade. Em termos econômicos, é importante salientar que professores bons ou ruins custam quase a mesma coisa para a escola, ao passo que a redução de turmas pela metade implica construção de novas salas de aula e contratação do dobro de professores.

Parece uma equação de fácil resolução: a partir deste estudo, apenas professores ótimos serão admitidos na escola. A dificuldade está em identificar uma pessoa com potencial para ser um ótimo professor apenas através de concurso, currículo ou entrevista pessoal. É preciso colocá-lo em frente ao quadro negro, junto aos alunos e deixá-lo trabalhar por um tempo para só depois avaliá-lo. O julgamento deveria ser realizado após o inicio dos trabalhos e não antes.

Grandes empresas entrevistam mil candidatos para encontrar dez que possuam as habilidades de desempenho pretendidas. Investem tempo e dinheiro avaliando, acompanhando e treinando no ambiente de trabalho. Sabem o valor de um ótimo profissional e pagam boas recompensas para mantê-lo produzindo e superando metas.

Enquanto professores medíocres continuarem a ser efetivados e mantidos em seus cargos unicamente porque foram aprovados em concursos décadas atrás, enquanto a estrutura salarial continuar a ser rígida, remunerando por igual professores com desempenhos diferentes, verbas serão desperdiçadas e o ensino como um todo o grande prejudicado.

Na saúde o quadro não é muito diferente. O médico apresenta seu diploma de especialização e se credencia ao plano de saúde. Nenhum concurso é necessário.  A partir deste dia, passa a ser remunerado por um valor tabelado comum a todos os médicos do plano. Experiência, habilidade, resolutividade, empatia, titulação não são levados em consideração. A avaliação destes quesitos é deixada à cargo dos pacientes, que em tese escolheriam os melhores, deixando vazios os consultórios dos piores. A remuneração diferenciada seria conseqüência da quantidade de consultas atendidas por cada profissional.

Na prática não funciona assim, pois médicos são indutores da demanda e ao mesmo tempo, atendentes. Em outras palavras, médicos indicam o tratamento e depois o realizam, podendo interferir diretamente na lei da procura e da oferta, aumentando ou diminuindo seu faturamento.

Médicos com boa clinica privada colocam na balança a remuneração paga pelo plano de saúde e limitam o número de atendimentos aos segurados, que insatisfeitos protestam seus direitos. Outros profissionais preferem ganhar na quantidade. Atendem consultas num tempo médio de 12 minutos, gerando outro tipo de  reclamação.

Diagnósticos equivocados, tratamentos ineficazes, reconsultas em demasia, exames desnecessários, dificuldade na marcação de consultas e cirurgias, gastos exagerados, auditorias, glosas, processos judiciais retratam não apenas deficiências médicas, mas também insatisfação, desconfiança e problemas administrativos.

Dezesseis milhões de analfabetos. Sessenta por cento dos usuários de planos privados de saúde com alguma experiência negativa no último ano. Saúde e educação deveriam ser a base de uma sociedade desenvolvida.  Deixar alunos e pacientes sob a tutela de professores, médicos e gestores que batem o cartão ponto e não produzem, é uma temeridade. Vale a pena conferir o que entendia o jurista Rui Barbosa: “tratar com  desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real”.  Valorizar o capital humano pode ser o ponto de partida e um ótimo negócio para todos. Privilegiar os mais eficientes pode fazer toda a diferença. A diferença entre enrolar e resolver. 











2 comentários:

  1. ...pois então. A questão é absurdamente profunda, pois passa, antes de tudo, por dissociar interesses monetários dos interesses voltados à qualidade de ensino e da saúde. Em linhas gerais, então, tratar desigualmente o desigual, conforme Direito vem paulatinamente introduzindo na nossa cultura. Entretanto, dissociar a monetarização das relações do ideal de tratamento (à saúde e ao ensino), em um país em que a política do Estado é marcadamente voltada para a manutenção do analfabetismo funcional, digamos ser missão para os próximos 100 anos, sendo otimista.

    Muito bom o artigo.

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  2. Interessante tema de reflexão. Fiquei pensando sobre esta analogia. Falarei daquilo que é de experiência própria. Das variadas formas de planejamentos que são necessárias serem feitas para alcançar a cognição em determinadas turmas. Se pensarmos que recebemos alunos com Dislexia, Disgrafia, Disortografia e Discalculia ( e outras Dificuldades de Aprendizagem), deficientes auditivos e visuais, atrofia neuro muscular,além de alunos que nascem gerados na drogadição e no alcoolismo. É sabido e inquestionáveis os problemas pelo qual um professor passa numa periferia. A necessidade que faz o trabalho da Orientação Educacional ao encaminhar um aluno que passa por necessidades especiais a um Assistente Social, fonoaudiólogos, neurologistas, psicólogos e toda a sorte de profissionais que possa auxiliar e colaborar neste processo solitário. Porém eu questiono qual é a Política Pedagógica que proporciona estes profissionais para vir em auxílio de professores que não foram preparados para tal desempenho. O professor necessita de atualização constante e melhores salários para que isso possa acontecer. Alimentação, moradia e saúde são considerados como a base para estruturar uma educação de qualidade.

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