domingo, 31 de outubro de 2010

Te perdôo por te traires

“Se quiseres ser feliz por um momento, vinga-te,
se quiseres ser feliz pelo resto do teus dias, perdoa”
Tertuliano


A lavanderia manchou seu vestido, o computador novo apresentou um defeito de fábrica, clonaram seu cartão de crédito, seu candidato não cumpriu as promessas de campanha, o gato do vizinho arranhou seu carro, você foi traído(a) por seu companheiro(a). Calma, não é seu dia de azar, são apenas exemplos para pensar se é fácil perdoar indiscriminadamente, ou se algumas situações são mais graves que outras e por este motivo, não merecem perdão.

Seja honesto agora, você ficaria mais feliz se perdoasse, ou se pudesse se vingar para que sentissem a mesma ou ainda mais dor que lhe causaram?

Provavelmente a gênese da maioria das situações que envolvam perdoar ou não, está em promessas descumpridas. Amantes que fazem juras de amor eterno e depois descumprem, produtos e serviços que não correspondem ao anunciado , erros e falhas humanas, etc. Mal intencionadas ou não, estas promessas descumpridas refletem a imperfeição humana. Não só dos outros, mas nossa também ao nos iludirmos, ao não compreendermos exatamente o que nos dizem, ao nos comportarmos diferente do esperado.

Sendo assim, a culpa pela traição é somente do traidor? Nem sempre. O traidor também pode ser a vítima. A primeira pessoa a se trair é sempre o próprio traidor, pois antes de ferir ao outro, está renegando uma promessa por ele feita. Está primeiramente traindo a si próprio. Outras vezes, a traição é a única ou a última alternativa que restou ao traidor para resolver determinada situação, pois a traição nem sempre é realizada somente por quem realizou o ato, atitudes inspiram atitudes, tanto para o bem, como para o mal.
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Não estou defendendo a traição como solução final de problemas nem pregando a absolvição da mesma, apenas ponderando que a culpa pela traição necessariamente não é apenas do traidor. Chico Buarque de Holanda em um verso célebre já abordava a questão quando cantou “te perdôo por te traíres”.



Nem sempre temos uma parcela da culpa, mas é bom que façamos uma auto-critica antes de sairmos acusando. Colocar-se no lugar do outro , inverter os papéis, pode ser um bom exercício antes de qualquer julgamento precipitado.

Mas o que dizer do assaltante, do estelionatário, do estuprador? Vamos perdoa-los e assim seremos felizes? Não, perdoar não significa aceitar o comportamento que nos prejudicou, nem tampouco a renúncia aos valores violados. Perdoar não significa simplesmente, indulto, desculpa, remissão de pena. Perdoar é uma virtude. Não é somente dizer as palavras “Eu perdôo”, colocar o bandido atrás das grades, ou aceitar o(a) companheiro(a) de volta e esquecer tudo. Para perdoar é necessário paciência, tolerância, compaixão e tempo. Não estamos falando em tempo para esquecer. Perdoar e esquecer são coisas diferentes. Perdoar não é esquecer algo doloroso que aconteceu.

Ficar nutrindo rancor e desejando vingança é como tomar o veneno e esperar que o outro morra. Perdoar é a decisão racional de se desvencilhar destes sentimentos nocivos, deixar de gastar energia sobre coisas que não se pode mudar. Liberar a dor, o ressentimento e a raiva que estavam sendo carregados como um fardo e que acabavam por ferir a própria pessoa. Mágoas envelhecidas transparecem no rosto e nos atos, e acabam por moldar toda uma existência.


Perdoar é recuperar o poder, pois o que aconteceu deixa de ser relevante e não tem mais influência alguma. Perdoa-se também para manter viva a memória do mal praticado, como um sinal de advertência. Sem o perdão, a memória seria dolorosa, e por vezes insuportável. Pode-se até dizer que o perdão é a superação do passado em benefício do futuro. Resumindo, não se perdoa as pessoas porque isto fará bem a elas, mas porque fará bem a quem perdoou. Deixa-se de ser vítima.


Perdoar não é algo tão simples que possa partir de uma leitura, uma boa educação e uma predisposição por um mundo melhor. Talvez os seres humanos esqueçam mais do que perdoem. Talvez os seres humanos perdoem a maioria das vezes por fraqueza do que por virtude. Talvez perdoar seja somente para os Deuses. Talvez pela falibilidade humana de uns e pela fraqueza e incapacidade de um perdão sincero de outros , não consigamos atingir a felicidade absoluta. Talvez ainda tenhamos muito que aprender em relação ao perdão, mas o único pecado sem perdão, certamente é pecar contra a esperança.
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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Sala de Esperança

Médicos do passado acreditavam que pacientes, por se encontrarem enfermos, não tinham outros compromissos e prioridades, a não ser esperar pelo atendimento que lhes traria alivio dos sintomas e cura da doença. O número de profissionais era muito restrito e as doenças proliferavam sem controle, não havendo alternativa diferente de colocar bancos e cadeiras para que doentes submissos aguardassem sua vez na fila. Nasciam assim “Sala de Espera” e sua irmã inseparável, “Paciência”, esta encarregada de consertar as confusões causadas pela primeira e condenada a se conformar com a situação.

Provavelmente alguns pacientes já consideravam esta espera na sala uma falta de respeito e um modelo de desorganização, mas não reclamavam pelo receio de serem mal atendidos. Os tempos mudaram e a resignação deixou de ser uma constante. Alguns médicos perceberam esta tendência e procuraram soluções, ao passo que outros ainda entendem que sala de espera lotada é sinônimo de sucesso profissional e mantêm o “status quo”.

Empiricamente médicos foram experimentando maneiras de diminuir a angústia e ansiedade dos que esperavam, auxiliados por quem convivia diariamente com o problema: o organizador da fila, seu fiel escudeiro, a secretária, que utilizando bom senso escutava queixas e desaforos enquanto fornecia explicações e servia de guarda-costas e porteiro da ante-sala do médico.

Uma das estratégias mais utilizadas foi transformar a sala de espera em uma espécie de sala de estar, cuja função seria oferecer conforto, relaxamento e distração aos esperantes, oportunizando assim entretenimento e socialização.
E nessa ânsia de oferecer o melhor, impressionar e acabar de vez com as reclamações, foram sendo adicionados requintes à sala: tapetes persas, granitos, computadores, máquinas de café, DVDs, jornais, revistas e claro, mais pacientes.

Funcionou parcialmente. Nossa sociedade foi programada para ter pressa. Não aprendemos e não gostamos de esperar. Por maiores que sejam os esforços no sentido de tornar agradável a espera, os resultados serão apenas paliativos. O que os pacientes buscam em um consultório, colorido ou sofisticado, não é a espera. Procuram algo que mesmo não sendo concreto, tem muito mais valor. Procuram a esperança. Pense nisso!
Material de divulgação de meu novo livro “Sala de Espera – Diferencial rumo ao Sucesso” – Editora DOC
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