sábado, 4 de julho de 2009

AS PESSOAS MELHORAM QUANDO PASSAMOS A GOSTAR DELAS

O frio, as feras, a fome, o medo encostaram os homens uns aos outros. Tornaram-se assim mais fortes e economizaram energia. Ao se aproximarem perceberam que não eram iguais, existiam diferenças. Não apenas físicas, mas também filosóficas. E por não tolerarem as diferenças, os homens passaram a se odiar e se matar. Disputavam as fêmeas, lutavam por comida, competiam pelo poder, assassinavam as crianças, praticavam canibalismo. Esqueceram do motivo que os uniu e passaram a ameaçar uns aos outros.

Nada os diferenciava dos animais até o dia em que foram estabelecidas regras de convivência para que a espécie tivesse continuidade. O marco da separação entre homens e animais e o inicio da civilização aconteceu quando os homens fizeram o acordo de proibir o homicídio como prática corrente. Somente sobreviveram aqueles que acataram este princípio básico; os outros exterminaram seu futuro, matando-se entre si..

O amor naturalmente leva à união. Os homens passaram a formar famílias, que se juntaram a outras famílias para formar uma família maior. Surgiram aldeias, vilas, cidades. Os homens escolheram se encostar novamente. Construíram edifícios e condomínios para economizar recursos, se proteger e ter uma convivência mais agradável.

Com a aproximação surgiu barulho no andar de cima, latido de cachorro na madrugada, carro mal estacionado, bêbados, lixo no corredor, crentes, políticos, prostitutas, velhos, crianças, gordos, magros, negros, brancos, amarelos, fumantes, maconheiros, enamorados...Mais uma vez as diferenças se tornaram visíveis, foram rotuladas como defeitos e passaram a incomodar.

Apartamentos cada vez menores, prédios colados em prédios, paredes de gesso cartonado, lavanderias coletivas, elevadores sempre cheios...Os homens passaram a viver perto uns dos outros, mas não se aproximaram. Pelo contrário, ficaram cada vez mais solitários. Esqueceram mais uma vez o motivo que os uniu e voltaram a ser rivais. No trânsito, no trabalho, no supermercado, na rua, no condomínio. Até na família alguns se sentem incomodados com as diferenças entre pais e filhos.

A vida moderna se organizou de modo a fazer com que a dependência dos outros seja a menor possível. Todos querem ter o seu carro, seu apartamento, seu computador, seu celular, para serem o mais independentes que puderem. Esta evolução levou a noção de que o futuro de cada indivíduo depende só dele. Não depende do vizinho, do próximo. No máximo a dependência é do patrão, do emprego. Aproximados por conveniência e afastados por egoísmo, alguns tem vida social somente na aparência. A tolerância com as diferenças não existe.

Acontece que os homens não foram programados para viver em isolamento. Dependem uns dos outros para levar uma vida sadia e feliz. Necessitam pertencer e ser aceitos pelo grupo. Como encontrar um grupo com harmonia de idéias? A vida moderna se encarregou de achar uma solução: internet. Comunidades de semelhantes são formadas, comunicam-se virtualmente e soluciona-se o problema de solidão.

E o problema do incêndio? Se a casa do vizinho estiver pegando fogo, a sua também corre perigo. Isto não é um jogo virtual, a fumaça já está dentro de seu apartamento. É melhor desligar o computador e pedir ajuda. De preferência para um vizinho, ou para o síndico.

Na vida real, não podemos ignorar vizinhos. Estão por toda a parte e não podemos escolher. A escolha que pode ser feita é viver em sociedade ou não, e viver em sociedade inclui conviver com diferenças. Alguns homens são melhores em certos aspectos, enquanto outros têm qualidades diferentes, e assim a sociedade se completa. Se os homens fossem iguais, as idéias seriam semelhantes e a solução dos problemas seria sempre a mesma, sem evolução da espécie.

O que fazer com as diferenças? Aproveitar o lado construtivo, entender o modo de ser do outro, ensinar e aprender coisas novas, dialogar, eliminar preconceitos, prevenir abusos. As pessoas melhoram depois que passamos a gostar delas. Isto se chama conviver, ou melhor, saber viver.
Leia mais no site http://www.ildomeyer.com.br/
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Um comentário:

  1. MariaRejaneVargasdaCosta4 de agosto de 2009 às 21:53

    Caro Dr. Ildo,
    Gosto de ler seus textos!
    Mas já reparou que o primeiro parágrafo poderia ser escrito no presente?
    Isso deve-se ao fato de termos até a presente data etnias sendo dizimadas.
    O homem continua sendo uma "fera". A pior de todas as feras, pois visa o
    domínio, enquanto os outros animais só caçam para a subsistência.
    Pense nisso!
    Luz e paz!

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