sexta-feira, 20 de março de 2009

SE ARREPENDIMENTO MATASSE...

Se pudéssemos voltar atrás no tempo e nascer de novo, repetiríamos as mesmas escolhas? Casaríamos com a mesma pessoa? Teríamos a mesma profissão? Faríamos aquele telefonema? Rejeitaríamos aquele beijo? Diríamos aquela frase? Calaríamos? Prenderíamos aquelas lágrimas?

Pensaríamos mais antes de cometer certos erros ou não nos importaríamos tanto com eles? Trocaríamos sonhos por uma vida mais segura?

Caso suas respostas sejam no sentido de repetir e manter tudo igualzinho, ótimo para você. Se pensar em mudar algo, por que ainda não o fez? O que está esperando?

Nem sempre é possível voltar atrás e tentar reverter uma situação. Às vezes o dano é irreversível e não resta mais tempo para correção. Surge então aquilo que chamamos de arrependimento. E mais, podemos nos arrepender daquilo que fizemos e também daquilo que deixamos de fazer. Do que foi feito sem pensar e das oportunidades que foram perdidas por pensar demais.

Arrependimento pressupõe sensibilização e surgimento de dois elementos: tese e emoção. A tese é sempre a mesma: convicção do erro. A variante está na emoção, que pode alternar entre vergonha, culpa, raiva, depressão e remorso, Mas arrependimento não é um fenômeno estático; pelo contrário, arrependimento quer dizer mudança de atitude, ou melhor, atitude oposta àquela tomada anteriormente.

Um simples pedido de desculpas não configura um arrependimento verdadeiro. Entre a tese do arrependimento, a emoção gerada e a tomada de atitude contrária existe um longo e penoso caminho a ser transposto. O remorso, por exemplo, é um sentimento onde a pessoa que o sofre inflige a si mesma algum tipo de castigo apenas para tentar se esquivar de uma punição mais severa advinda do meio social. Não envolve arrependimento verdadeiro nem atitude contrária. Vergonha, raiva, culpa, depressão também não tem sentido se não levarem a mudança de atitude.

Uma velha expressão popular diz “se arrependimento matasse...”. Acontece que arrependimento mata, se chegar atrasado. Dependendo do tempo transcorrido entre a convicção do erro e a possibilidade da atitude contrária o desastre pode ser fatal.

Podemos por um minuto dizer que não mais amamos, nos arrependermos nos próximos quinze minutos e sermos infelizes pelo resto da vida.

Arrependimento não é desonra nem humilhação. É sinal de caráter, bom senso, humildade. Errar é humano e inevitável. A sabedoria está no reconhecimento do erro, arrependimento e atitude para corrigi-lo. O futuro está na brevidade de tempo até que a ação corretiva aconteça. A graça ou desgraça desta vida está justamente na conseqüência dos atos e sua possibilidade ou não de reversão.
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Um comentário:

  1. Belíssimo texto!

    Concordo em gênero, número e grau!

    Arrependimento é um breve toque que a alma te dá para tu retomares aquela situação que não teve um resultado feliz ou um final satisfatório.

    É uma nova chance (no presente) que tu mesmo te ofereces para parar, pensar, repensar e fazer diferente (daquilo que tu fez no passado)... Se essa for a intenção, claro!

    Nos arrependemos daquilo que foi feito!
    Porque foi sem querer...
    Sem medir consequências...
    Ou sem dimensionar o estrago causado...
    Desfazer é o mais difícil.
    Muitas vezes, não dá só para pedir desculpas... a gente tem que se explicar, insistir... e isso torna a tarefa árdua, sem garantia nenhuma de que o outro vai entender ou absorver por completo o recado que está sendo dado.

    Por outro lado, se arrepender daquilo que não se fez torna-se um pouco mais ameno.
    Não muito, por que às vezes o tempo hábil já passou, a ocasião se perdeu e resgatar tudo isso é complicado também.
    Mas, podemos retomar alguns dados, recriar certas situações e tentar fazer o que deveria ter sido feito.
    É uma segunda oportunidade que a gente brinda a si mesmo, já com certa consciência e um pouco de receio, não totalmente vencido pela coragem de querer, desta vez, acertar!
    O sucesso, também neste caso, não está garantido. Mas, ao menos, não fica aquele gosto amargo que corrói... nem a dor pungente no peito ocasionados pelo fato de não ter efetivado com presteza aquilo que dependia só da gente.

    Mas, nem tudo é assim.
    Algumas vezes, o arrependimento se instala justamente porque a situação envolve duas vontades diferentes e não apenas uma.
    Talvez a pior insatisfação com a conduta praticada (ou não praticada) tenha origem nas expectativas criadas em relação a alguém... que certamente pouco se importou com isso, desconsiderando todas as atitudes tomadas na tentativa de acertar o passo.
    Não adianta nada o outro insistir em que as tuas atitudes estão erradas e tão-só as dele são as corretas. É preciso "ler" sob a ótica do outro. Ao menos, experimentar, arriscar, exercitar...

    Concluindo: tratando-se de sentimentos nobres e, portanto, de imensurável valor, acredito que deva existir uma "confluência" entre o próprio arrependimento e o arrependimento do outro, o qual também deve ser manifestado para que haja continuidade de afetos num mesmo caminho e idêntica direção!

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