sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

INVESTIR NA INCERTEZA

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Poetas gostam de falar de amor. São grandes amantes, flertam, escrevem lindas poesias, mas quase nunca permanecem casados. A maioria dos mestres espirituais que transcenderam são solteiros e castos, não trabalham e vivem de auxílios financeiros. Grandes filósofos também não fogem à regra e terminam seus dias solitários.

Apesar de todos esforços, não me considero grande poeta, guru, filósofo ou amante. Isto não impede minha eterna busca, curiosidade e aprendizagem, mesmo que à duras penas, das nuances do amor. Com os devidos cuidados, para não ser condenado à solidão amorosa por pensar demais, vou me aventurar a discutir o assunto iniciando pelas bordas, muito embora exista a versão de que em matéria de amor o segredo é envolver-se por inteiro, não deixando espaço para um relacionamento morno.

O fato de pensar o amor seria um obstáculo para a convivência entre amantes? O velho ditame popular “Quem pensa muito, não casa” faz sentido? Amar, casar e conviver precisam andar juntos?

Jiddu Krishnamurti, filósofo e místico indiano, dizia ser mais fácil amar Deus do que um ser humano. Conviver é muito mais difícil do que amar um ser divino; conviver é mais prosa do que poesia, é mais troca do que oração. Nosso companheiro(a) come, dorme, fala, chora, protesta, abraça, tem nome, sobrenome, CPF, carteira de identidade... Tem pele, cheiro, gosto. Relaciona-se.

Relacionamentos envolvem riscos. O amor assim como outros sentimentos, é pouco previsível, confuso e difícil de domesticar. Envolve incertezas e faz parte do amor ser refém do destino. Pode ser atemorizante, perigoso e extremamente doloroso, mas também envolve desejo, excitação, podendo ser sensorialmente encantador. Esta alternância agridoce promove uma ambivalência entre fugir e cair de amor. Amar exige coragem.

Comprometer-se a amar alguém por longo prazo é uma aposta alta. Amor é um processo e não um simples substantivo. Deveria sempre ser utilizado na forma verbal, ou seja, amar, pois isto envolve ação, movimento, envolvimento. Sentimentos entram pela porta da frente e muitas vezes saem pelos fundos sem ao menos avisar. A insegurança é a única certeza.

Tanto o amor como a bolsa de ações são investimentos de risco. Bons acionistas informam-se todas as manhãs sobre o mercado de capitais, fazem cálculos, consultam especialistas e decidem se compram ou vendem ações. Não existe promessa de lealdade a longo prazo, e assim, dia a dia, hora a hora, minuto a minuto, vão administrando os riscos inerentes do investimento. Nem sempre ganham, mas sabem que a médio e longo prazo, é um bom negócio e continuam apostando. Investir em ações não é um jogo de azar, exige envolvimento, experiência, estudo, ousadia e um pouquinho de sorte.

Com o amor é um pouco mais complicado, pois a administração do risco não está restrita somente a um investidor que decide o momento de comprar ou vender ações. O parceiro também tem o poder de manter ou passar adiante o amor, investindo ou descartando o compromisso. A relação é bilateral, baseada em sentimentos, envolve pessoas que a cada dia se transformam e as estatísticas demonstram probabilidades de fracasso.

Como fazer um pacto para a vida inteira nestas condições? O amor atual ainda corresponderá daqui a 20 ou 30 anos quando os amantes se tornarem pessoas diferentes? Eis o desafio: apostar no amor ou desistir dele.

Amar, além de ser um sentimento, é uma construção que envolve dois amantes. Dia a dia, hora a hora acreditando que vai dar certo e trabalhando para adaptá-lo, reorientá-lo e transformá-lo naquilo que os dois conseguirem fazer juntos, com defeitos e qualidades, ganhos e perdas, mas uma relação única, singular e irreproduzível que está valendo a pena.

Dois amantes que se transformam também em sócios, parceiros e cúmplices, e apostam todas suas fichas no desafio contra a incerteza do amor eterno. Um compromisso silencioso que precisa ser muito mais compreendido do que verbalizado.

Escrever, pensar e cantar o amor é muito bonito, mas não é o suficiente. Construir e oferecer amor exige humildade, ousadia e coragem. Amar é para poucos. Falar de amor é consolo para muitos.
Leia mais no site www.ildomeyer.com.br
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3 comentários:

  1. Só deveriam estar autorizados a falar (e a escrever!) sobre o amor aqueles que conhecem bem o assunto. Os que admitem com todas as letras que amam ou amaram alguma vez.
    De verdade.
    Com garra.
    Força.
    Ímpeto.
    Determinação.
    E os que sofreram por amar demais. Esses sabem do que se trata!
    Quem sabe amar, pra valer, entregando sua alma, corpo e mente... jamais ousaria fazer um paralelo
    entre sentimentos tão elevados e um assunto árido como a bolsa de valores. São domínios incompatíveis. Não pertencem à mesma área de conhecimento. Não se misturam, nem se complementam.
    Exigem de nós habilidades diferenciadas.
    Os objetivos são outros!
    A abordagem também deveria ser!
    Apenas uma frase deixou-me na dúvida e me fez pensar.
    Faz parte do amor ser refém do destino?
    Achava que não. Refém tem carga negativa. O amor deveria renunciar a essas conotações!
    Entretanto, devo admitir que às vezes acontecem coisas que só um golpe do destino consegue nos alertar...

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  2. Prá pensar: O que dói mais na alma?
    - nunca ter amado de verdade
    - amar sem ser amado
    - conviver com um, amando outro

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  3. APOSTANDO NA CERTEZA


    Quando seu coração bater mais forte quando encontrar uma pessoa
    Quando a vida parece que fica mais leve e as coisas mais alegres com ela
    Quando dormir abraçado parece te levar a um sono mais tranquilo
    Quando ver um filme sem ela parece te dar a necessidade de compartilhar com ela o que viu
    Quando as conversas parecem ser mais profundas e verdadeiras
    Quando caminhar acompanhado tem um gosto especial
    Quando o toque desta pessoa é o que te importa e te excita
    Quando nenhum outro corpo encaixa no seu como o desta pessoa
    Quando vocês começarem a saber o que o outro vai dizer ou está pensando...

    E porque já sentiu a tristeza de não estar com esta pessoa
    porque a vida parecia ficar mais pesada e sem graça
    porque dormia sozinho e mal
    porque lembrava-se sempre dela ao ver um filme ou escutar uma música
    porque as conversas com outros ficavam aborrecidas e superficiais
    porque caminhava sozinho (na vida, inclusive)
    porque o toque de outros até te incomodava
    porque os outros corpos não se encaixavam no seu
    porque ficava pensando o tempo todo nela...

    Case com esta pessoa
    Mas case de alma e tranquilo, justamente pela certeza da sua sorte!
    Porque são pouquíssimas as pessoas que tem esta sorte na vida
    De se encontrarem, de se reconhecerem e de persistirem apesar dos medos
    Porque a vida se faz cada vez mais curta e os prazeres fugazes
    E, com certeza, a coisa mais importante na vida é amar e ser amado

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