domingo, 1 de fevereiro de 2009

INVESTIR NA INCERTEZA II - Sentimentos não precisam de nome para serem reconhecidos

Enquanto o ser humano encontra-se absorvido naquilo que está fazendo, concentrado em seu trabalho, realizando algo que considera importante, um desafio que valha a pena, provavelmente está com todas as suas energias voltadas para este fim, completamente absorto em si mesmo.





Maratonistas, concertistas, bailarinos, escritores, cirurgiões, alpinistas, homens e mulheres quando estão mergulhados em suas atividades entram em um estado de fluência, ou seja, desligam-se dos problemas mundanos, concentram-se somente em seus estados internos e incorporam com tanto vigor os seus objetivos, que temos a impressão de que o indivíduo flui para a sua meta da mesma maneira que um rio flui para sua foz. O trabalho está incorporado ao ser. Depois de concluída a tarefa, ao olhar para trás e ver o que aconteceu, ai então são capazes de pensar e se sentir felizes. Uma felicidade em retrospecto.



Durante o processo de fluência não se sente o tempo passar, não se tem fome, não se tem sono, não se tem tempo para pensar no futuro ou se determinada atitude promoverá felicidade ou não. O encanto da fluidez pode até ser quebrado se nos dispersarmos em pensamentos a respeito dos benefícios que aquele trabalho possa nos trazer. O ato de fluir em si já é o bastante. Quanto mais se é feliz, menos se presta atenção à felicidade, ou como disse Ivan Turgueniev: “Felicidade é como a saúde, se não sentes falta dela, significa que ela existe”.



No artigo Investir na incerteza, coloquei em pauta o fato de que poetas e filósofos que costumam pensar e falar sobre o amor, geralmente terminam os dias longe de seus amores. Não conseguem manter uma convivência longa em harmonia com seus pares. O fato de pensar o amor seria um obstáculo para a convivência entre amantes? Amar e pensar sobre o amor seriam incompatíveis?


Pensar o amor engloba um infinito de experiências e sentimentos; o perigo está justamente nos extremos. Talvez o amor possa se enquadrar no mesmo conceito de fluência relatado para o sentimento de felicidade e realização. Enquanto se ama, não sobra espaço para questionar o amor. Ou o amor está rolando e fluindo ou vão surgir perguntas, dores e angústias que podem até prejudicar o encantamento do amor. Com a meditação acontece a mesma coisa: se você começar a pensar, não está mais meditando.



Poetas geralmente são excelentes amantes e falam com maestria de amor, mas são amores passados ou platônicos e as dores vividas ou fantasiadas sobre o amor são a grande fonte de inspiração. O prazer de um amor fluindo não precisa ser definido, cada um sabe e sente a sua maneira, e geralmente é uma sensação de bem estar onde se pensa em borboletas azuis, sinos tocando, a expressão é eufórica e ao mesmo tempo serena, o andar é leve e elegante e o olhar é brilhante e vibrante. Os obstáculos e questionamentos inerentes ao amor compartilhado são transponiveis e contornáveis. Como as pedras e o rio em perfeita beleza e harmonia.




Leia mais no site: http://www.ildomeyer.com.br/





.




.





Um comentário:

  1. Realmente deixar fluir e absorver-se inteiramente em uma experiência ou um projeto é muito bom. São momentos breves, pois nossa mente tem outros mil projetos mirabolantes. Daí vem nosso controle interno ou a razão, para dizer: espera aí, vamos voltar ao ponto. A reflexão sobre a experiência serão a chave para que esse estado fluidico se repita. Há um tempo para pensar e outro para exercer o pensamento...

    ResponderExcluir