sábado, 15 de novembro de 2008

RECOMENDADO PARA MAIORES DE 21 ANOS

Apesar do título de advertência, a curiosidade fará com que jovens menores de 21 anos queiram saber o conteúdo deste artigo. Tudo bem. Você acha que já é adulto? Então siga adiante.

O que define um adulto? A idade? A independência financeira? A maturidade na maneira de agir? A ausência de brincar?

Na linguagem coloquial, adulto é um ser humano que atingiu uma idade que lhe autoriza contrair casamento e realizar ações como votar, dirigir, prestar serviço militar, consumir bebidas alcoólicas.

Legalmente, significa um indivíduo que pode ser parte de um contrato, servindo também para definir quando os pais perdem direitos parentais ou deixam de ter deveres, tais como responsabilidade financeira pelo menor. Dependendo do local, a entrada oficial na idade adulta pode variar entre 16 e 21 anos.

Definitivamente, não é por assinar um contrato, ter um metro e oitenta centímetros de altura, casar ou ter cabelos brancos que alguém se transforma em adulto. Estes critérios levam em conta o aspecto físico e legal, mas são insuficientes e falhos. O que pode então caracterizar uma pessoa como adulta?

Em sociedades primitivas o jovem deve passar por testes de coragem para se transformar em adulto. O pai índio Cherokee leva o filho para a floresta durante o final da tarde, venda-lhe os olhos e o deixa sozinho toda a noite, sem poder remover a venda até o sol nascer no outro dia. Se ele conseguir passar a noite toda lá, será considerado um adulto. Animais selvagens podem ataca-lo, mas segundo a tradição cherokee, este é o único modo dele se tornar um adulto.

O jovem não pode contar a experiência aos outros meninos porque cada um deve tornar-se homem ao seu próprio modo, enfrentando o medo do desconhecido. Após a noite horrível, o sol aparece e a venda é removida.Então descobre que seu pai esteve sentado a noite inteira perto dele, protegendo-o do perigo.



Ao enfrentar e vencer o medo, o jovem índio morre como criança para renascer como adulto, mas é necessário um ritual de passagem, onde uma situação marcante demonstra que os comportamentos infantis foram abandonados por uma postura adulta com propósitos e controle do medo, insegurança e do desejo de desistir e voltar para o estado confortável de ser criança novamente. O velho pai que o protegeu durante a noite não será mais necessário.


No mundo ocidental, rituais de passagem foram perdendo valor, provavelmente por serem tão imprecisos e generalistas quanto critérios de idade para definir alguém como adulto.


Conforme a Psicanalista Melanie Klein, tornar-se adulto é ter a capacidade de ser pai e mãe de si mesmo, ou seja, sair de uma condição de dependência para uma relação de interdependência mútua, crescendo e permitindo, de forma consciente, que as pessoas ao redor também cresçam. Este conceito rompe com o aspecto físico e biológico e já acena com a possíbilidade de que ser adulto não tem relação com tamanho ou idade. Tem muita gente grande e velha que não é adulta.


Ser adulto tem a ver com postura, posicionamento e responsabilidade dentro de um contexto social. Isto não acontece de um dia para o outro, tampouco através de rituais; vai sendo conquistado aos poucos, como se fosse uma maratona. A corrida tem inicio justamente quando se consegue sair da dependência familiar para então aceitá-la e reconhecê-la com todos os defeitos e qualidades como mola propulsora para a vida adulta. Prossegue-se no processo assumindo compromissos, culpas, contas e fracassos. Aceitando-se, procurando corrigir os defeitos e amando as qualidades. Aprendendo a dizer não, a se conter, e principalmente a não se intimidar diante do amor, injustiça, preconceito, desrespeito e deslealdade. Tendo habilitação para dirigir e idade para ingerir bebidas alcoólicas sem jamais mistura-las. Compreendendo que mãe é a mulher que amamenta e ajuda a se transformar em adulto, mas esposa ou companheira é a mulher que diariamente o incentiva e lhe oferece espaço para ser homem. Conservando a leveza e capacidade de brincar, mas não brincando com os sentimentos alheios. Tendo consciência de olhar para trás, arrepender-se das criancices e ao mesmo tempo perdoar a si e aos outros por elas.


Se você tem isto com 10 anos de idade, já é um adulto. Se você tem 80 anos e não possui, ainda continua criança. Mas nunca é tarde.


Este artigo é um presente para Leonardo, meu filho, que completa 21 anos neste mês.
Leia mais no site: www.ildomeyer.com.br
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Um comentário:

  1. Importante a passagem por ritos para marcar a passagem em uma nova etapa da vida. De alguma forma, essa experiência ultrapassa os limites da razao pura e atinge outros niveis do ser.
    Há tantos ritos, cada povo tem o seu. É uma questão de identidade !

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