domingo, 30 de novembro de 2008

O PEQUENO DESLIZE QUE DERRUBOU A BOLSA



Filósofos e pensadores ao longo de décadas escrevem sobre um dedo indicador na consciência humana cobrando e exigindo um comportamento adequado. Freud batizou-o de superego. Dependendo da transgressão moral, este dedo repressor incrimina, acusa e pode até mesmo funcionar como uma arma apontada contra o indivíduo. Superegos muito fortes podem até matar.

Por outro lado, a natureza também dotou o homem com o impulso de trapacear, destruir, ser desonesto e lesar ao próximo. Inúmeros estudos comprovam que quando há oportunidade, muita gente trapaceia. Funcionários levam material do escritório para casa, alunos colam nas provas, médicos cobram sem recibo, lobistas patrocinam políticos, relatórios de despesas são superfaturados, ultrapassa-se o limite de velocidade permitido, atletas fazem uso de doping...

Ao ser desonesto, o dedo repressor inicia o processo de acusação, criando-se então um dilema entre trapacear quando houver oportunidade e for conveniente e a dor na consciência e reprovação moral da sociedade.

Através de um mecanismo de racionalização o ser humano criou dois tipos de crimes ou desonestidades:
a) pequenos deslizes éticos que não acionariam o superego, tais como colar nas provas, furar a fila,
b) grandes transgressões,que chocam a sociedade e são francamente condenadas - assalto a mão armada, estupro.

Diferenciando desonestidade em grande e pequena, o próximo passo foi criar argumentos para incluir comportamentos inadequados na classificação de pequenos deslizes, e assim, não sentir tanto a pressão do dedo na consciência. Como conseqüência, os superegos da sociedade foram anestesiados e pequenos deslizes passaram a crescer em tamanho e quantidade impunemente. Desonestidade, má fé, falta de ética estão presentes em empresas, escolas, clubes, igrejas, trânsito, relacionamentos, governos. Os chamados crimes de colarinho branco, ou seja, sem uso de armas, totalizam um valor aproximado de um trilhão de dólares/ano nos Estados Unidos, enquanto os prejuízos com assaltos e furtos somaram no ano de 2004, o ínfimo valor comparativo de 15 bilhões de dólares. Colarinho branco lesa o bolso do cidadão muito mais que ladrão.

Estamos vivendo uma era de desconfiança e desonestidade. Temos medo de assaltos e seqüestros pois ameaçam nossa integridade física e somos vítimas em potencial, mas enquanto isto, crimes de colarinho branco e pequenas e grandes trapaças há muito tempo já causam grandes estragos em nossas finanças. A arma é somente um instrumento ameaçador, o verdadeiro crime é a desonestidade.

Estaremos mesmo anestesiados, resignados ou sem solução? Que exemplo estamos transmitindo para nosso filhos? Para que serve a honestidade?

Honestidade gera credibilidade, confiança. E não existem pequenas ou grandes credibilidades.. Pessoas são confiáveis ou não são. . Relacionamentos não se sustentam com a falta de confiança, que vai se alastrando e contaminando pessoas, famílias, empresas e comunidades.

Como tudo isto vai terminar? Não sei. Um cidadão americano comprou uma casa, assinou uma hipoteca como garantia, imaginou que o banco tinha muito dinheiro e não ia sofrer um grande prejuízo com sua inadimplência e praticou um pequeno deslize deixando de pagar. Dizem que foi mais ou menos assim que as ações no mundo inteiro começaram a desabar..

Uma coisa é certa: não existem meias trapaças, pequenas desonestidades ou mentiras leves. Transgressões são transgressões e ponto final, ou quem sabe, o início de uma campanha pela valorização da honestidade e confiança.
Leia mais no site: http://www.ildomeyer.com.br/

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