quarta-feira, 12 de março de 2008

Eles simplesmente desistem

Nossos antepassados precisavam se movimentar para conseguir comida. Os homens caçavam e coletavam frutos, folhas, raízes e cogumelos. Nem sempre se conseguia sucesso na caça, mas quando esta ocorria, garantia alimento por alguns dias. A coleta, por sua vez, precisava ser diária. Isto exigia, em média, caminhadas de oito kilometros diários.

Além disto, comiam folhas, frutos e muito pouca gordura, pois os animais caçados eram magros. Não existia o açúcar. Consequência deste estilo de vida? Homens magros.



Mais tarde, o homem descobriu que poderia conseguir alimento sem se movimentar. Plantava e esperava para colher. Descobriu também o fogo, que passou a ser utilizado na preparação dos alimentos, amolecendo-os e facilitando a ingestão e digestão de fibras e carne. Abandonou a vida nômade e passou a se fixar no local da plantação, diminuindo consideravelmente as caminhadas do passado.


Aproveitou o tempo que utilizava caçando e coletando para ter idéias, e inventou a roda, o automóvel, o trator, o adubo, o telefone, o computador, a internet. A facilidade em se conseguir alimento se reduziu hoje a um telefonema ou um click no computador. A refeição que você sonhar estará em sua mesa, sem esforço algum, trinta minutos após a realização do pedido. A disponibilidade é muito grande.


Os homens passaram a viver em espaços cada vez menores. Trancados em apartamentos, mas com telefones, computadores, internet, orkut, MSN, que lhes possibilitam estar conectados com o mundo. Não é necessário mais levantar da cama para buscar o jornal na banca de revistas, ou ir até a caixa do correio ver a correspondência, ou visitar amigos para conversar, ou mesmo ir ao mercado fazer compras.


Qual a tendência com esta mudança no estilo de vida? Engordar. A obesidade está aumentando em todas as faixas etárias, todas as raças e em ambos os sexos. Já é considerada um problema de saúde pública.


Por que somos mais gordos que nossos antepassados? Será esta uma escolha nossa ou uma tendência da vida moderna? O fato de não precisarmos nos movimentar para conseguir alimentos e comunicação seria o responsável pelo aumento da obesidade mundial? Temos muito mais conhecimento e recursos que nossos antepassados para evitar a obesidade. Podemos comprar alimentos de melhor qualidade, freqüentar academias de ginástica, spas, e até mesmo ter academias dentro da própria casa. Por que continuamos engordando, apesar de comermos cada vez mais folhas e alimentos dietéticos?


Provavelmente não é por fome física que engordamos, mas por fome emocional. A maioria das pessoas come mais do que o necessário, e quase nunca se satisfaz. Comem e bebem como glutões, mas não desfrutam de nada. Gordos tem prazer em comer, e compensam suas angústias através da gula. Provavelmente a comida não é o problema, mas o sintoma.


E a ciência continua evoluindo e contribuindo para o aumento da obesidade. Desde que surgiram medicamentos para reduzir o colesterol, teóricamente a obesidade deixou de ser uma ameaça tão grande à saúde. Para que ser magro? É comum ouvir a explicação de um obeso satisfeito e feliz por se alimentar sem restrições e ter controlados os níveis de colesterol e triglicerídeos através de medicamentos. Este discurso é falho porque a obesidade termina por atingir vários órgãos possibilitando uma maior chance de desenvolver doenças como diabete, cálculo biliar, hipertensão, artrose e câncer.


Evidências sugerem também que adoçantes utilizados na dieta em substituição ao açúcar, podem levar a um aumento na ingestão alimentar, pois é o açúcar ingerido o responsável pela sensação de saciedade do organismo. Pode então se desencadear uma verdadeira compulsão por ingestão de doces dietéticos, com a ilusão de serem inócuos para a saúde.
Se nos acomodarmos, e não descobrirmos a origem da nossa fome, o resultado final já é conhecido: obesidade. As ofertas e facilidades empurram para este lado. Para cada kilo ganho, se perde algo. A saúde de uma pessoa depende em média 30% de herança genética, 20% das condições sócio-econômicas e os restantes 50% da maneira como se conduz a vida. Assim sendo, 50% do peso pode ser fruto de circunstâncias que escapam de nosso controle e a atitude tomada pode fazer diferença, mas nos outros 50% do peso que teoricamente são passíveis de controle, a tomada de atitude certamente irá fazer a diferença;. Noventa por cento das pessoas que fracassam na tentativa de controle da obesidade, não são de fato derrotados. Eles simplesmente desistem.
Leia mais no meu site: www.ildomeyer.com.br

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