quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

A BOLSA OU A VIDA

Mãos ao alto, isto é um assalto! A bolsa ou a vida?






Todos os dias somos vitimas desta cena. Não estou falando de bandidos, crimes de colarinho branco, preços abusivos, impostos e outras tantas situações que já viraram rotina e a cada dia vão deixando o cidadão com menor poder aquisitivo.




Quero comentar os roubos que acontecem ou que deixamos acontecer contra nos mesmos. Quando o ladrão nos dá a opção, escolhemos a vida e entregamos a bolsa. Quando a sociedade permite escolher, muitos preferem a bolsa e entregam a vida.




Imagine que ao nascer temos duas bolsas enormes, uma cheia de recursos financeiros (dinheiro), e outra cheia de vida (tempo). As necessidades ao longo da existência seriam supridas por estas bolsas e poderia se escolher de qual delas seriam feitos saques e/ou poupanças. Em relação ao estudo, poderia se escolher entre gastar horas na escola ou simplesmente não estudar e poupar o tempo para outra atividade mais interessante, pois recursos financeiros estariam garantidos pela bolsa do dinheiro. O mesmo raciocínio vale para o trabalho, se você pode pagar suas despesas com a bolsa do dinheiro, para que gastar tempo trabalhando? Poupe tempo e gaste o dinheiro.




Agora comece a acordar: você nasceu com a bolsa do dinheiro vazia e a da vida cheia. O tempo é a única moeda que você tem para concretizar seus sonhos e passa a fazer saques para obtê-los. Quase sem perceber, todo o dia fazemos escolhas entre a bolsa e a vida. E escolhemos a bolsa. Trocamos horas de vida por empregos que não satisfazem mas pagam contas, por relacionamentos fracassados e mantidos por conveniência, por faculdades que não interessam mas fornecem diploma, por vícios que dão prazer e matam aos poucos.




A sociedade inicia seus assaltos à vida logo ao nascer, mas faz tão lentamente e em pequenas porções, que quase não se percebe a falta do que foi roubado: tempo e também dinheiro. O ladrão, por sua vez, ataca de surpresa, e se nos for dada possibilidade de escolha, entregamos a bolsa sem pensar, pois se ele nos roubar a vida está tudo acabado. O dinheiro ainda poderá ser recuperado através de novas trocas por tempo com a sociedade, afinal a bolsa do tempo ficou intacta com o assalto, e poderá ser utilizada a qualquer momento, pois continua sempre cheia.




Se o assalto for abrupto entregamos a bolsa e ficamos com a vida, se for crônico vamos entregando lentamente nosso tempo em troca de dinheiro. Alguns nascem com as duas bolsas cheias, outros com duas vazias, poucos com a bolsa do dinheiro cheia e da vida vazia e a maioria com a bolsa da vida cheia e a do dinheiro vazia.




A unidade de troca não precisa necessariamente ser dinheiro, podemos fazer cálculos utilizando a moeda tempo. Quanto tempo preciso trabalhar para comprar aquele relógio? Quanto tempo vou usufruir daquela casa na praia que vai me custar tantos meses de trabalho? Geralmente se começa a prestar mais atenção na bolsa da vida quando esta começa a dar sinais de estar ficando vazia e ai, infelizmente, descobre-se que esta bolsa não tem como ser preenchida com qualquer espécie de troca. Tempo perdido não pode ser recuperado.




Assisti ao filme “Sete Vidas” em inglês “Seven Pounds” onde um homem e uma mulher apaixonam-se, mas ela é portadora de uma doença cardíaca terminal que lhe daria somente mais um mês de vida. Durante um diálogo eles fazem o jogo do “e se”? E se eu fizesse um transplante cardíaco, sobrevivesse, tivéssemos filhos e nos mudássemos para a praia? A mulher estava com sua bolsa de vida quase no final, mas queria continuar vivendo e procurava maneiras de enchê-la novamente. Neste caso um transplante ainda poderia ser a solução. No dia a dia é mais fácil, existem soluções mais simples.




Ao entrar o ano de 2009 , aproveite a oportunidade e escolha você mesmo como quer pagar suas contas, porque o pior que pode acontecer é ser assaltado e deixar que a sociedade ou o ladrão escolham o que vão nos levar. Nossa resposta não pode ser um resignado “tanto faz”.






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terça-feira, 16 de dezembro de 2008

FESTAS DE FINAL DE ANO - RISOS E LÁGRIMAS


Estamos chegando ao final de mais um ano. Será que é só isto , apenas mais um ano que daqui a pouco chegará ao fim? 2008 sai do calendário e entra 2009? Não, não foi só mais um ano, foi um ano diferente. Queda das bolsas, bancos quebrando, recessão, desemprego. Alguns vão aproveitar as oportunidades, outros vão afundar. Apesar disto, o mundo vai seguir girando, a vida continua, não foi a primeira crise na história da humanidade, e o sol vai continuar nascendo e se pondo como acontece há milhões de anos.

E com você, como foi o ano? Tem algo para comemorar ou vai festejar apenas porque o péssimo ano está terminando e quem sabe o próximo seja melhor?

Festas podem ser alegres para uns e tristes demais para outros. Podem ser uma ótima oportunidade de comemorar com parentes e amigos, mas não é assim para todos. Alguns sequer tem família, ou estão longe delas; outros se angustiam só de pensar em dar uma trégua em suas vidas sofridas, se comportar com falsidade, cumprimentar pessoas, fingir que está tudo bem, trocar presentes e dizer clichês do tipo “que seus sonhos se realizem”.

Talvez festas de final de ano não representem nada para alguns, que simplesmente jantam um pedaço de pizza assistindo televisão, dormem e na manhã seguinte, quando o sol nasce, suas vidas continuam como sempre foram. Para outros, talvez natal e ano novo representem muito, mas nunca tiveram tempo ou quiseram parar e pensar no porquê deste sentimento, e todos os anos repetem automaticamente o mesmo ritual. Isto os deixa felizes, ou quem sabe nem tanto...

Festas de final de ano são ótimas oportunidades para comemorarmos mas também para nos enganarmos e iludirmos.. Comendo e bebendo até cair mas prometendo iniciar o regime na manhã seguinte, resolvendo fazer uma mudança radical a partir da virada da meia noite, fazendo votos de amor, combinando viagens... 95% das resoluções da noite da festa são apagadas com a ressaca da manhã seguinte.

A necessidade de conjugar felicidade, alegria, prosperidade com a mudança de calendário pode ser fonte de ansiedade, depressão, angústia e até mesmo medo, terminando por estragar a festa de todos. Quando buscas, sonhos e metas não foram alcançadas ao longo do ano, alguns aproveitam a êxtase da festa e desesperadamente fazem promessas para o ano seguinte.

Já começam endividados. Mudanças não acontecem somente porque são desejadas, é preciso comprometimento. Ao longo dos dias a determinação pela promessa vai se esvaindo, acaba-se voltando a velha rotina e quando se vê já passou mais um ano. É natal de novo, festas, comemorações e lá no fundo aquela sensação ruim de não ter conseguido se repetindo mais uma vez. Ficou devendo.

Ao se aproximar esta época do ano, alguns desejam ardentemente as festas, enquanto outros as temem. Alguns anseiam pelas ceias, outros se preocupam com as dietas; alguns recebem presentes, outros contabilizam dívidas; alguns sorriem, outros choram.

Talvez um velho adágio popular possa nos ser útil nestes dias: “o que engorda não é o que se come entre o natal e o ano novo, mas o que se come entre o ano novo e o natal”. O mesmo vale em relação a promessas: “o que for plantado entre o ano novo e o natal, será colhido e comemorado na semana entre o natal e o ano novo”. Festas são para colheita, não para dívidas. Inicie o ano trabalhando, não prometendo.

Você tem vontade de mudar em 2009?
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domingo, 30 de novembro de 2008

O PEQUENO DESLIZE QUE DERRUBOU A BOLSA



Filósofos e pensadores ao longo de décadas escrevem sobre um dedo indicador na consciência humana cobrando e exigindo um comportamento adequado. Freud batizou-o de superego. Dependendo da transgressão moral, este dedo repressor incrimina, acusa e pode até mesmo funcionar como uma arma apontada contra o indivíduo. Superegos muito fortes podem até matar.

Por outro lado, a natureza também dotou o homem com o impulso de trapacear, destruir, ser desonesto e lesar ao próximo. Inúmeros estudos comprovam que quando há oportunidade, muita gente trapaceia. Funcionários levam material do escritório para casa, alunos colam nas provas, médicos cobram sem recibo, lobistas patrocinam políticos, relatórios de despesas são superfaturados, ultrapassa-se o limite de velocidade permitido, atletas fazem uso de doping...

Ao ser desonesto, o dedo repressor inicia o processo de acusação, criando-se então um dilema entre trapacear quando houver oportunidade e for conveniente e a dor na consciência e reprovação moral da sociedade.

Através de um mecanismo de racionalização o ser humano criou dois tipos de crimes ou desonestidades:
a) pequenos deslizes éticos que não acionariam o superego, tais como colar nas provas, furar a fila,
b) grandes transgressões,que chocam a sociedade e são francamente condenadas - assalto a mão armada, estupro.

Diferenciando desonestidade em grande e pequena, o próximo passo foi criar argumentos para incluir comportamentos inadequados na classificação de pequenos deslizes, e assim, não sentir tanto a pressão do dedo na consciência. Como conseqüência, os superegos da sociedade foram anestesiados e pequenos deslizes passaram a crescer em tamanho e quantidade impunemente. Desonestidade, má fé, falta de ética estão presentes em empresas, escolas, clubes, igrejas, trânsito, relacionamentos, governos. Os chamados crimes de colarinho branco, ou seja, sem uso de armas, totalizam um valor aproximado de um trilhão de dólares/ano nos Estados Unidos, enquanto os prejuízos com assaltos e furtos somaram no ano de 2004, o ínfimo valor comparativo de 15 bilhões de dólares. Colarinho branco lesa o bolso do cidadão muito mais que ladrão.

Estamos vivendo uma era de desconfiança e desonestidade. Temos medo de assaltos e seqüestros pois ameaçam nossa integridade física e somos vítimas em potencial, mas enquanto isto, crimes de colarinho branco e pequenas e grandes trapaças há muito tempo já causam grandes estragos em nossas finanças. A arma é somente um instrumento ameaçador, o verdadeiro crime é a desonestidade.

Estaremos mesmo anestesiados, resignados ou sem solução? Que exemplo estamos transmitindo para nosso filhos? Para que serve a honestidade?

Honestidade gera credibilidade, confiança. E não existem pequenas ou grandes credibilidades.. Pessoas são confiáveis ou não são. . Relacionamentos não se sustentam com a falta de confiança, que vai se alastrando e contaminando pessoas, famílias, empresas e comunidades.

Como tudo isto vai terminar? Não sei. Um cidadão americano comprou uma casa, assinou uma hipoteca como garantia, imaginou que o banco tinha muito dinheiro e não ia sofrer um grande prejuízo com sua inadimplência e praticou um pequeno deslize deixando de pagar. Dizem que foi mais ou menos assim que as ações no mundo inteiro começaram a desabar..

Uma coisa é certa: não existem meias trapaças, pequenas desonestidades ou mentiras leves. Transgressões são transgressões e ponto final, ou quem sabe, o início de uma campanha pela valorização da honestidade e confiança.
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sábado, 15 de novembro de 2008

RECOMENDADO PARA MAIORES DE 21 ANOS

Apesar do título de advertência, a curiosidade fará com que jovens menores de 21 anos queiram saber o conteúdo deste artigo. Tudo bem. Você acha que já é adulto? Então siga adiante.

O que define um adulto? A idade? A independência financeira? A maturidade na maneira de agir? A ausência de brincar?

Na linguagem coloquial, adulto é um ser humano que atingiu uma idade que lhe autoriza contrair casamento e realizar ações como votar, dirigir, prestar serviço militar, consumir bebidas alcoólicas.

Legalmente, significa um indivíduo que pode ser parte de um contrato, servindo também para definir quando os pais perdem direitos parentais ou deixam de ter deveres, tais como responsabilidade financeira pelo menor. Dependendo do local, a entrada oficial na idade adulta pode variar entre 16 e 21 anos.

Definitivamente, não é por assinar um contrato, ter um metro e oitenta centímetros de altura, casar ou ter cabelos brancos que alguém se transforma em adulto. Estes critérios levam em conta o aspecto físico e legal, mas são insuficientes e falhos. O que pode então caracterizar uma pessoa como adulta?

Em sociedades primitivas o jovem deve passar por testes de coragem para se transformar em adulto. O pai índio Cherokee leva o filho para a floresta durante o final da tarde, venda-lhe os olhos e o deixa sozinho toda a noite, sem poder remover a venda até o sol nascer no outro dia. Se ele conseguir passar a noite toda lá, será considerado um adulto. Animais selvagens podem ataca-lo, mas segundo a tradição cherokee, este é o único modo dele se tornar um adulto.

O jovem não pode contar a experiência aos outros meninos porque cada um deve tornar-se homem ao seu próprio modo, enfrentando o medo do desconhecido. Após a noite horrível, o sol aparece e a venda é removida.Então descobre que seu pai esteve sentado a noite inteira perto dele, protegendo-o do perigo.



Ao enfrentar e vencer o medo, o jovem índio morre como criança para renascer como adulto, mas é necessário um ritual de passagem, onde uma situação marcante demonstra que os comportamentos infantis foram abandonados por uma postura adulta com propósitos e controle do medo, insegurança e do desejo de desistir e voltar para o estado confortável de ser criança novamente. O velho pai que o protegeu durante a noite não será mais necessário.


No mundo ocidental, rituais de passagem foram perdendo valor, provavelmente por serem tão imprecisos e generalistas quanto critérios de idade para definir alguém como adulto.


Conforme a Psicanalista Melanie Klein, tornar-se adulto é ter a capacidade de ser pai e mãe de si mesmo, ou seja, sair de uma condição de dependência para uma relação de interdependência mútua, crescendo e permitindo, de forma consciente, que as pessoas ao redor também cresçam. Este conceito rompe com o aspecto físico e biológico e já acena com a possíbilidade de que ser adulto não tem relação com tamanho ou idade. Tem muita gente grande e velha que não é adulta.


Ser adulto tem a ver com postura, posicionamento e responsabilidade dentro de um contexto social. Isto não acontece de um dia para o outro, tampouco através de rituais; vai sendo conquistado aos poucos, como se fosse uma maratona. A corrida tem inicio justamente quando se consegue sair da dependência familiar para então aceitá-la e reconhecê-la com todos os defeitos e qualidades como mola propulsora para a vida adulta. Prossegue-se no processo assumindo compromissos, culpas, contas e fracassos. Aceitando-se, procurando corrigir os defeitos e amando as qualidades. Aprendendo a dizer não, a se conter, e principalmente a não se intimidar diante do amor, injustiça, preconceito, desrespeito e deslealdade. Tendo habilitação para dirigir e idade para ingerir bebidas alcoólicas sem jamais mistura-las. Compreendendo que mãe é a mulher que amamenta e ajuda a se transformar em adulto, mas esposa ou companheira é a mulher que diariamente o incentiva e lhe oferece espaço para ser homem. Conservando a leveza e capacidade de brincar, mas não brincando com os sentimentos alheios. Tendo consciência de olhar para trás, arrepender-se das criancices e ao mesmo tempo perdoar a si e aos outros por elas.


Se você tem isto com 10 anos de idade, já é um adulto. Se você tem 80 anos e não possui, ainda continua criança. Mas nunca é tarde.


Este artigo é um presente para Leonardo, meu filho, que completa 21 anos neste mês.
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quinta-feira, 30 de outubro de 2008

HOMEM - O ANIMAL ÉTICO






Ao final de cada palestra costumo dedicar um tempo para interagir com o público. Sempre surgem dúvidas e casos interessantes. Se você tiver alguma pergunta, sugestão ou comentário, envie para esta coluna, que com muito prazer procurarei auxiliar.

Animais tem ética? Não. Animais agem por instinto de sobrevivência. Eles não são capazes de pensar num futuro maior do que alguns minutos, e suas ações são direcionadas ao aqui e agora.



Quando um esquilo começa a armazenar comida para o inverno, isto não está ligado a pensamentos sobre seu futuro. Dias mais curtos, com menos luz, automaticamente ativam este comportamento em todos os esquilos. Não é uma atitude individual. Quando uma fêmea chimpanzé dá de mamar a um gatinho órfão, o que está em jogo é o instinto maternal e não o pensamento lógico sobre o amparo a um bebê sem mãe.


Toda vez que você fizer um carinho em seu cão, receberá “lambidas” em retribuição. O cão pode proteger o dono de uma agressão, perceber as mudanças de humor na família, realizar tarefas domésticas e circenses e até ser chamado de o melhor amigo do homem por suas manifestações de lealdade e fidelidade. Em 2004 na Califórnia um labrador preto chamado Jet pulou na frente de seu melhor amigo, um garoto que estava prestes a ser mordido por uma cascavel, e recebeu o veneno. Foi considerado um herói. Não pensou em si mesmo, foi um verdadeiro altruísta.
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Este comportamento instintivo animal pode até ser ético em determinadas circunstâncias, porém não passa de uma coincidência ligando ação e reação, e provavelmente Jet, o cão herói, agiu desta maneira por considerar o menino como membro de sua matilha, prevalecendo o instinto de sobrevivência familiar.


Alguns animais possuem a capacidade de serem afetados pelo estado de outro indivíduo ou criatura. Esta característica, chamada de empatia, pode variar desde mímica corporal, quando se imita o movimento do outro (coçar, bocejar, sorrir, cruzar as pernas, mostrar os dentes) até o contágio emocional, quando as emoções dos outros são captadas e passam a ficar em sintonia (medo, alegria, raiva). Por este mecanismo, cães, macacos, golfinhos, elefantes eventualmente podem entender o sofrimento de outros o suficiente para oferecer ajuda. Não sabem o que é ética, mas a praticam.


Animais não conseguem pensar no futuro. O cão não guarda um pedaço de osso para dividir com outro cão. Enterra para que só ele possa achar daqui a alguns instantes quando a fome retornar. E muitas vezes esquece onde escondeu.


Ética exige mais do que instintos e imediatismos. Exige pensar e sentir a longo prazo. Trocar de posição com o outro e tentar entendê-lo, dar sem nada esperar em troca, ver da perspectiva do outro. Nestes quesitos os animais falham e não conseguem ser enquadrados na classificação de criaturas éticas em termos conceituais.


Em tese, humanos deveriam ter comportamentos éticos e animais, por não possuírem a capacidade de pensamento, estariam livres desta qualidade tão nobre e gratificante e ao mesmo tempo emocional e intelectualmente pesada. Muito embora alguns animais possam ser considerados quase que humanos e seus donos possam até mesmo confundir as posições, animais são animais e humanos são humanos.


A confusão se instala quando humanos, que possuem todas as condições para agirem de maneira ética, não o fazem, comportando-se por vezes tão mal, que suas atitudes passam a ser chamadas de desumanas ou até mesmo, animalescas.
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Tanto animais como humanos podem ser carinhosos ou agressivos, egocêntricos ou éticos, dependendo dos estímulos e instintos em ação. A diferença é que os homens possuem a capacidade de pensamento, que os permite refletir nas conseqüências de seus atos e optar por um caminho ou outro. Este direito de escolha que permite aos homens o livre arbítrio, permite também que os mesmos se enganem, o que não acontece com os animais. Ética é a arte de viver em liberdade para pensar e viver em sociedade.
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segunda-feira, 20 de outubro de 2008

DAR SENTIDO AO ACORDAR



Você não dormiu direito. Pode ter sido insônia, um filho doente, uma festa que se prolongou ou um projeto a ser finalizado. O fato é que seu corpo não descansou, o sono não foi reparador e você tem um compromisso agendado. Qual sua estratégia para pular da cama cedo pela manhã e ir trabalhar, estudar ou cuidar da saúde praticando exercícios? O bom e velho despertador ainda é um dos métodos mais utilizados, mas infelizmente é muito primitivo.
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Você já deve ter tido a experiência desagradável de estar deitado, tentando ainda desesperadamente recuperar o sono e de repente aquele susto. Um barulho tão incômodo invadindo seus ouvidos que a freqüência cardíaca aumenta, a respiração fica ofegante e o corpo molhado de suor. Envolto por tal perturbação você instintivamente levanta e desliga aquele som. O dia já iniciou, o calendário mudou, porém você ainda não teve o tempo necessário para sair do ontem.

Mais do que isto, você realmente acordou ou simplesmente tomou um susto que o tirou da cama? Muitas vezes as pessoas se vestem, tomam café e partem para suas jornadas como sonâmbulos, fazendo obrigações automaticamente. Saem da cama às seis horas da manhã, passam o dia dormindo e só vão acordar mesmo lá pelas seis da tarde.

Na tentativa de amenizar o estresse do despertar artificial foram surgindo invenções: rádio relógios musicais, travesseiros programados para iniciarem vibrações suaves, condicionadores de ar que modificam a temperatura ambiente, lâmpadas que aumentam a claridade. Aparelhos que promovem a estimulação dos órgãos dos sentidos, modificando aguda ou lentamente condições ambientais, perturbando o sono e forçando sua interrupção de uma maneira menos danosa ao organismo.
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Seriam estas técnicas realmente menos nocivas ou apenas uma maneira mais agradável de estimular os sentidos, sendo o verdadeiro problema o despertar artificial? Seja como for, parece que uma coisa está clara: se quisermos interromper o sono de alguém, teremos que apelar para as sensações.

A palavra acordar tem sua origem em “cordatus”, que significa juízo aguçado, razão em pleno funcionamento e o termo despertar deriva do espanhol “espertar”, avivar, tornar-se esperto.

Interromper forçadamente o sono e levantar para realizar tarefas é diferente de acordar. O indivíduo vai acordar somente quando estiver pronto para isto. Em relação aos sentimentos e comportamentos não é diferente. Podem transcorrer anos e até mesmo toda uma existência e as emoções permanecerem adormecidas. Uma interpretação poética para acordar pode ser “dar cor para”, ou seja, sair do piloto automático e agir com o coração.

Um homem pode ficar todos os dias saindo da cama para trabalhar às seis horas da manhã e acordar realmente só aos sessenta anos de idade, quando descobre que esteve o tempo todo na profissão errada. Estar de olhos abertos, caminhando, conversando, trabalhando não significa estar desperto. Pode ter sido uma vida absolutamente sem cor, cinzenta e sonolenta.
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Os órgãos dos sentidos são indicadores, marcadores dos sentimentos e emoções que habitam nosso ser. Se ficarem restritos ao corpo físico, perderão uma de suas preciosas funções. Seremos mais zumbis do que despertos. O verdadeiro despertador é a consciência de que vale a pena acordar. Que a vida tem emoções, surpresas, cheiros, gostos e amores esperando para serem coloridos.
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Dormir é bom, importante e saudável; permite relaxar, repousar e sonhar. Acordar e abrir os olhos para a realidade pode até ser doloroso, mas estar presente no momento, ficar em pé fazendo pleno uso do corpo, coração e mente é viver concretamente o sonho
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segunda-feira, 29 de setembro de 2008

LONDRES E O PALÁCIO DA RAINHA

Ao desembarcar em Londres, o funcionário da imigração olhou meu passaporte e perguntou se era a primeira vez que eu visitava a Inglaterra. Respondi que já havia passado uma temporada há mais ou menos dez anos atrás. Continuando o interrogatório, ele disse que eu nunca havia estado na Inglaterra. Não compreendi direito, pensei que não estávamos nos entendendo por falarmos idiomas diferentes. Mas logo em seguida, sem que houvesse tempo para pensamento ou resposta, continuou dizendo que para a imigração, dez anos sem visto de entrada no país, significa a mesma coisa do que nunca ter entrado. Ainda me lembro das palavras textuais: “Mudou tudo, o país está completamente diferente!”

Não foi esta a minha sensação ao retornar ao Palácio de Buckingham; continuava tudo exatamente igual. A única diferença entre as fotos batidas na década passada e as atuais foi o meu envelhecimento. Nada mais havia mudado. As grossas paredes do palácio, as grades de ferro com cinco metros de altura, os guardas da rainha tão impessoais como bonecos de brinquedo realmente não foram afetados pelo tempo. Estaria o funcionário da imigração enganado já que nada havia mudado ou quem sabe estávamos tendo mesmo problemas de comunicação?

Talvez a explicação para esta confusão seja justamente o distanciamento provocado pelas grossas paredes, pela força de segurança britânica e pela realeza. Quando alguém se enclausura e se tranca para o mundo exterior, não se mostra e provavelmente não vai mudar. Protege-se de todas as maneiras, isola-se e fica preso em si mesmo. Mal consegue enxergar e respirar além dos altos muros que tentam preservar tradições e costumes. Não existem trocas, nada pode ser perdido, tudo tem que ser conservado dentro do castelo-corpo. Muitas vezes o que se consegue ver é somente uma máscara, um disfarce, uma fachada. Décadas ou quem sabe séculos passarão e ainda teremos a impressão de que o palácio não passa de uma pintura em tela, muito grande e distante, protegida por bonequinhos de chumbo. Pedras, ferros, torres podem durar séculos. Não tem emoção e se forem bem conservados serão imutáveis.

A ferramenta para a mudança é o convívio social. Lá dentro do palácio, onde as pessoas interagem, as coisas já não são tão perenes; Lady Diana se divorciou e faleceu, Príncipe Charles agora vive com sua ex-amante, o filho da princesa foi flagrado com prostitutas...Por vezes, quando se força a preservação de situações insustentáveis, a mudança pode acontecer de forma dramática: catástrofes, revoluções, escândalos. É como se a respiração ou um mal estar ficassem trancados dentro do peito por muito tempo até o dia em que, não suportando mais a pressão, o castelo-corpo explodisse com um grito, um choro. Se for permitido compartilhar conhecimento, sentimentos, buscas, sonhos, as mudanças serão constantes, e então o funcionário britânico terá toda a razão. A Inglaterra mudou muito e é como se eu nunca tivesse pisado naquelas terras.

O que a imigração não leva em conta em seus cálculos matemáticos, são os sentimentos despertados naqueles que visitam o país. Assim como podem mudar e provocar mudanças, emoções despertadas por uma simples palavra, um toque, um sorriso, podem ser responsáveis por mudanças que atravessam gerações. Uma tradição aprendida em outro país, um hábito, um tipo de alimento que possa ser compartilhado com outro ser humano podem ficar marcados para sempre.

Seria possível então se estabelecer um período de tempo a partir do qual se possa considerar que uma pessoa nunca tenha existido? Dez anos de ausência seriam suficientes? Lady Diana, Freud, meu avô nunca existiram?

É preciso muito cuidado quando nos referimos a períodos de tempo. O tempo é o melhor dos mestres, pois consegue resolver todos os problemas da humanidade, porém é o mais perverso, pois termina por matar todos os seus discípulos.

Em tempo: apesar disto, visite a Inglaterra.

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domingo, 31 de agosto de 2008

CONFISSÕES DO AUTOR

Sabe-se que viver de Direitos Autorais neste país é quase uma utopia. Existe uma lenda urbana contando que escritores sonham em entrar para a Academia Brasileira de Letras pois, ao tornarem-se imortais, escaparão do perigo de “morrer de fome”. Por que tantas pessoas se lançam em aventuras literárias? Talvez o motivo seja semelhante ao que faz garotas bonitas tentarem ser modelos nas passarelas ou meninos acordarem de madrugada e treinarem todo o dia para serem atletas: esperança de chegar ao topo de uma pirâmide altamente competitiva e então ganhar uma fortuna. A realidade mostra que a maioria não consegue e se perde pelo caminho...

Outra razão para se escrever um livro é a crença no velho ditado de que para ser um homem realizado “é preciso ter um filho, escrever um livro e plantar uma árvore”. Seriam estas atitudes o caminho para a imortalidade ou uma demonstração de sentido na vida?

Pensando bem, motivos para escrever deve haver tantos quantos habitantes existam na terra. Gostaria de contar os meus. “Parabéns a Você” não foi o primeiro livro, mas foi minha estréia como autor individual.

Tenho um processo de criação muito egoísta. Escrevo porque é a melhor maneira que encontrei de colocar ordem em meus pensamentos. Escuto pessoas, pesquiso fontes, reflito, escrevo, apago, repenso, e no final das contas, quando consigo transformar pensamentos em palavras escritas, é que me dou por satisfeito. Assim vou tentando entender a vida e o mundo.

A alegria e o prazer de conseguir elaborar uma tese sobre algo que não me era muito claro são tão grandes, que não merecem ficar restritos a minha pessoa. Quero dividir. Quem sabe estas teses possam servir de fonte para que outros façam suas buscas. Por que não?

Assim nascem os artigos. Representam momentos de lucidez, sabedoria, desabafo e até mesmo confusão e loucura. São partes do autor. Com “Parabéns a Você” foi diferente; comecei escrevendo um artigo, me entusiasmei e quando terminei já eram mais de 100 páginas. O livro é como se fosse uma fatia maior. Talvez porque as palavras disponham de um espaço maior, por um capitulo se encaixar no outro, pelo tempo que demanda até ser finalizado, por toda a burocracia que envolve a publicação, o livro consiga espelhar mais intimamente o autor.
Embora o processo criativo e os objetivos sejam os mesmos, quando lanço um artigo tenho a sensação de estar conversando com um amigo, e ainda não sei direito por quê, o livro me passou a sensação de um comprometimento maior. Conseguem perceber, esta dúvida já está me estimulando a pesquisar, conversar e quem sabe, escrever mais um artigo...

O fato é que o livro saiu, está nas livrarias, na internet, e como representa minhas angústias, meus compromissos, é como se estivesse entregando ao público um pedaço meu, bem maior do que estou acostumado a oferecer. Isto acabou gerando certa ansiedade e também uma profunda dor muscular nas costas.

Recebi comentários que desfilaram desde a escolha do título, passando pela capa, cor da capa, dedicatória, tipo de letra, foto da orelha, bibliografia, preço, prefácio até chegar no âmago do conteúdo. Fiquei muito agradecido a todas as colaborações, aprendi bastante, e espero aprender muito mais com outras contribuições que possam surgir estimuladas por este artigo.
Não escrevi o livro pensando na imortalidade, nem para fazer fortuna, tampouco tenho a pretensão de mudar o mundo, passar a imagem de intelectual ou me candidatar a algum cargo. É bem verdade que expus minha face na vitrine ou na prateleira da livraria com todos os riscos que isto possa acarretar, e sei bem porque fiz isto. A emoção de receber o relato de uma situação constrangedora vivenciada por um leitor desconhecido, na qual durante a narrativa conta que lembrou do que leu no livro, e isto fez com que apesar da pressão que estava sofrendo, tivesse forças para fazer o que sabia ser a atitude correta, não tem preço. Mesmo que o livro tivesse somente este único leitor, para mim já seria motivo suficiente para continuar na aventura lúdica de escrever.
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segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Muitos passos em falso são dados ficando-se parado





Depois que os seres humanos conseguiram ficar eretos e andar sobre duas pernas, o mundo passou a ser visto de outra forma. No inicio, em sinal de respeito, os homens curvavam-se somente para os Deuses, que os protegiam. Mais tarde passaram a se curvar também para tiranos, que se julgando semi-deuses, impunham o respeito e a veneração pela força.

O tempo foi passando e novas alterações posturais surgiram. Músculos, ossos, articulações tiveram que se adaptar à evolução do intelecto. Os homens inventaram a cadeira e então sentaram. Depois veio a roda e passaram a andar sentados. Confortavelmente em uma poltrona, hoje pode-se voar, conversar via internet e até mesmo governar. O homem busca constantemente seu bem estar e uma melhor qualidade de vida.

O habitat humano, sendo essencialmente social, vai exigir relacionamentos, que podem variar da completa rigidez à total flexibilidade. Endurecidos ou flácidos também ficam os músculos, quando reagem à determinadas exigências sociais.

Nossos ancestrais foram forçados a se curvar para tiranos anti-éticos. Hoje, nossa coluna curva-se ao ver desigualdade, corrupção, impunidade, injustiça. Curva-se mais ainda com resignação, impotência, alienação. O corpo vai absorvendo as pressões sociais, os músculos vão retraindo e surgem as escolioses, deformidades, artroses e dores na coluna.

Postura e ética tem tudo a ver. Ética é uma postura de vida que pode moldar a postura corporal, mas em contra-partida, a postura fisica também pode sugerir a visão de mundo de um indivíduo. Rígida em princípios e valores e flexível na forma de analisar e sentir o outro, a ética pode ser metafóricamente comparada a um músculo.

Quando um princípio ético é forçado a ser relaxado, corpo e mente são afetados e passam a gastar mais energia. A pele, que é a nossa primeira roupagem e barreira para o exterior fica tensa, os músculos se contraem e a harmonia postural se desequilibra.

Da mesma forma, quando uma relação se torna rigida, seja com o próprio indivíduo em primeiro plano ou mais adiante com os outros, o sistema imunológico afrouxa as defesas do organismo, facilitando o surgimento de doenças.

Ética relaxada, músculos contraídos. Relacionamento rígido, imunidade frouxa. Crônica ou agudamente, ocorre uma transferência de atitudes ou da falta delas para dentro do organismo e a partir daí, músculos se contraem ou relaxam, hormônios são liberados ou reprimidos. Vale lembrar que o coração também é um músculo. Curvar-se para as exigências sociais, sentir dor, contrair doenças vale a pena? É válido utilizar, mesmo que inconscientemente o corpo como escudo ou reflexo do sofrimento da alma?

Um corpo encouraçado, inflexível, sem oxigênio circulante, não deixa o cérebro pensar, estabelecendo então um ciclo vicioso. O conforto fisico também afeta a capacidade de analisar, sentir, julgar e de ser ético.

Cada ser humano é único em seu corpo e forma de pensar e agir. Não existe corpo nem postura perfeitas. O caminho e o modo de andar são escolhas individuais, porém muitos passos em falso são dados ficando-se parado.

Artigo escrito com colaboração de Luciana Fioravanti - fisioterapeuta, morfoanalista
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terça-feira, 29 de julho de 2008

MENOS LEIS E MAIS ÉTICA

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Imagine uma cidade com veículos estacionados nas calçadas, cruzamentos, viadutos obstruídos. O caos. Surge então a necessidade de se criar uma regra, aceita por todos em benefício da comunidade.



Seria ótimo se todos a cumprissem, porém alguns vão desrespeitá-la, justificando suas infrações com argumentos do tipo “os fins justificam os meios”: estacionei porque era uma emergência, porque estava chovendo...


Cria-se então a lei e a polícia, que fiscalizarão e aplicarão penalidades aos infratores.Se alguém se sentir lesado, pode recorrer à justiça e discutir seus direitos.


Para que servem as leis? Para disciplinar o povo e para serem cumpridas. Ineficiência policial, corrupção, mandatos de segurança e outras manobras fizeram com que a lei e a polícia fossem perdendo autoridade e criaram uma entidade maligna, chamada impunidade.


Julho de 2008 - A Policia Federal coloca atrás das grades Daniel Dantas, um dos mais poderosos e influentes banqueiros do país. Junto com ele estão o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, o mega investidor Naji Nahas e mais 20 outros acusados de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, evasão fiscal, corrupção ativa e outros crimes do colarinho branco.
De imediato surgem protestos pelo uso de algemas e exposição pública dos presos. Onze horas depois, o Supremo Tribunal Federal concede hábeas corpus liberando dez dos acusados. O delegado envolvido no caso e um juiz federal solicitam prisão preventiva e 24 horas mais tarde, Dantas está preso novamente. No outro dia, o presidente do Supremo Tribunal Federal concede novo hábeas corpus, libertando Dantas. O delegado é afastado do caso e se instaura uma crise no judiciário.


O cidadão honesto observa o vizinho transgredir, levar vantagem e enriquecer ilícita e impunemente. Se por ventura penalizado, seus advogados entram em ação e logo o vizinho estará novamente sorrindo e bebendo champanha.


Qual conduta seguir? Espelhar-se no vizinho ou fazer valer o acordo? Com tantas infrações impunes, o povo desacreditou das instituições e alienou-se.


A solução não está no governo, no judiciário nem na policia. A falha é do indivíduo que ao deixar de pensar no bem comum e só olhar para si, obrigou a criação destas estruturas. E a criatura saiu à imagem do criador, ou seja, viciada. Quanto mais leis e mais policia existirem, menos ético é o povo. A grandeza de um povo não é medida pela maneira como são cumpridas as leis, e sim como são cumpridos os princípios que não estão escritos na lei: os valores, a ética.


Se a lei e a polícia não estão funcionando, é hora de voltar às origens e resgatar a ética. Uma campanha pela ética, onde cada um exerça o seu poder de cidadão. Ao presenciar fraude, corrupção, injustiça, mentira, não se omitir, indignar-se, sentir-se mal, não conseguir dormir e fazer algo para mudar. Chamar a atenção do vizinho, denunciar, e sobretudo, sentir vergonha de conviver com esta situação. Por algum lugar esta campanha tem que começar. Vamos fazer a nossa parte?
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terça-feira, 15 de julho de 2008

Matar um elefante é fácil, difícil é esconder o corpo

Conversando com um amigo, escutei a seguinte frase: “É mais fácil ser rico do que emagrecer.” O autor do discurso era obeso e rico. Estava desesperado, pois vinha seguindo uma dieta rigorosa por 30 dias, freqüentando academia de ginástica e não havia perdido 1 Kg sequer. Enquanto isto, seus negócios continuavam faturando alto. Aliás, segundo um estudo do Hospital Albert Einstein de São Paulo, 71% dos executivos estão acima do peso.

Se meu amigo pode pensar assim, outras pessoas também estão autorizadas a ter raciocínios semelhantes:
- É mais fácil ser rico do que ser honesto.
- É mais fácil se omitir do que se expor e tomar uma atitude.
- É mais fácil se apaixonar do que amar.
- É mais fácil desistir do que continuar tentando.

Tudo aquilo ao qual estamos habituados, nos parece simples e fácil. Quem nasceu rico ou foi premiado com a fortuna batendo a sua porta, não vê dificuldades em relação ao dinheiro. Da mesma forma os magros de nascença, não se preocupam com o que vão comer, artistas não se assustam com o palco e desonestos não se incomodam com a mentira. Pobres, obesos, tímidos e honestos por não conviverem com estas situações, tem dificuldades em manejá-las.

Quando precisamos realizar alguma coisa que não faz parte da nossa rotina, pode ser necessário um certo esforço, que inicialmente pode causar a sensação de dificuldade. Algumas situações parecem tão difíceis, que desistimos antes de tentar, tornando-as impossíveis para nós. Este é o grande problema: muitas pessoas desistem antes de fracassar, ou tentam caminhos alternativos que lhes parecem mais fáceis.

Depois de milhares de impossibilidades acontecerem, seria muita pretensão pensar que algo só é impossível até que algum maluco obstinado duvide e acabe provando o contrário? Um avião voar, um paraplégico voltar a andar, um ditador cair, dois inimigos se abraçarem, homens pisando na lua, gays casarem, mulheres presidindo nações. O que mais é impossível?

O impossível não é fácil de realizar, mas também não é difícil. O impossível primeiro se transforma em difícil e mais adiante, o difícil pode se transformar em fácil. O segredo para que isto aconteça é conviver com a possibilidade do impossível.

Já dizia Guimarães Rosa: “Morrer é fácil, difícil é viver”. Na medida em que nos afastamos das dificuldades para ficarmos na mesmice, morremos para a vida. Desistimos, nos alienamos e mentimos para nós mesmos.

O que está sendo difícil para você? Emagrecer, enriquecer, amar, estudar, perdoar, sonhar? Se algo é difícil, é porque não é impossível. Pratique a técnica da possibilidade: “O difícil será alcançado e o impossível demorará um pouco mais”.

Fácil, difícil, impossível são definições mutantes. De acordo com a época, o lugar e o contexto podem se transformar. O que é fácil hoje, amanhã pode se tornar difícil. O impossível hoje, amanhã pode acontecer e depois voltar a ser impossível. O esforço dos homens é que torna as coisas possíveis ou impossíveis de acontecer.

Sobreviver nos dias de hoje está muito difícil, é necessário matar um elefante por dia. Um outro amigo meu dizia: “Matar um elefante é fácil, difícil é esconder o corpo”. E eu acrescento: “difícil, mas não impossível.”
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segunda-feira, 30 de junho de 2008

CASAMENTO DESCARTÁVEL


“Eu os declaro marido e mulher até que a morte os separe”.

Religiosos de todas as crenças, espalhados pelo mundo e por toda a história repetiram e repetem esta declaração na celebração de união entre dois amantes. As estatísticas estão ai para mostrar que mais da metade dos casais não cumprem estes votos. Mas nem sempre foi assim, casamentos costumavam durar por toda a vida.

Durante quase toda a história da humanidade, as pessoas morriam antes de completar 30 anos de idade. Assim, casamentos tinham uma duração máxima de quinze anos, ou seja, quase toda uma vida. Quando as pessoas não morriam por doença, as guerras faziam sua parte, deixando viúvas jovens e crianças órfãs.

Além disso, o respeito pela religião e pela opinião alheia era muito grande, poucos ousavam desafiar os Deuses e a sociedade cometendo o pecado de dissolver um casamento. Mesmo com relacionamentos amorosos emocionalmente arruinados, casais permaneciam juntos até o final de um dos cônjuges. “Casaram e foram felizes para sempre”, final glorioso de livros e novelas no passado, começou a não funcionar na vida real.

Os últimos 50 anos transformaram o mundo. A expectativa de vida dobrou. A medicina trouxe tecnologia de vacinas contra o câncer, transplantes de órgãos e células tronco, marcapassos anti-depressão, medicamentos anti-envelhecimento, cirurgias estéticas, diagnósticos precoces. Estudos demonstram a possibilidade futurista de homens de 130 anos de idade, com energia e potencialidades físicas semelhantes as de um adulto contemporâneo de 50. Diferenças de idade superiores a 50 anos não serão problema para futuros casais.

Mudanças no estilo de vida e nas crenças também aconteceram, e a devoção religiosa já não é a mesma. E muito mais está por acontecer. Sem o vértice do pecado e com possibilidades centenárias de vida, homens e mulheres não estão conseguindo mais se manter casados. Monogamia e Perenidade são achados arqueológicos.

A grande dificuldade da evolução é do ponto de vista psicológico. O ser humano não está nem um pouco preparado para a velocidade e magnitude das modificações que aconteceram e das que estão por vir. O conhecimento médico duplica a cada cinco anos, computadores ficam obsoletos em dois anos, vestidos saem de moda em três meses, revelações fotográficas são instantâneas, lentes de contato são descartáveis, relacionamentos duram uma noite.

O cérebro humano não consegue acompanhar a velocidade da evolução tecnológica. Sentimentos, emoções, crenças, preconceitos não andam tão rápido e também não são descartáveis como sapatos, garrafas e vestidos. De um lado perspectivas infinitas de futuro e de outro crenças trazidas de nossos antepassados. De um lado casamento eterno, de outro, relacionamentos descartáveis.. Uma perna no passado, outra no futuro, e a cabeça no presente, sem saber para que lado ir. Confusão total.

Não podemos culpar o amor. Grande parte dos casamentos acontecem por paixão e são desfeitos sem nunca chegar perto do amor. Outros casais embora se amando profundamente, não conseguem conviver e terminam por separar. Separação com amor dói muito, e é o que está lotando consultórios psicológicos, causando depressão e deixando milhões de pessoas culpadas, frustradas e solitárias. Talvez não seja o fim do amor o grande vilão dos divórcios. Talvez a descartabilidade, a sedução das possibilidades e a falta de paciência tenham mais responsabilidade na confusão gerada entre casais do que a falta de amor própriamente dita.

O estilo de vida moderno, retirando do casamento a pesada carga emocional e responsabilidade social de “ser para sempre” e de “ter de ser feliz”, não pode ser considerado um sacrilégio. Milhões de casais tiveram a oportunidade de refazer suas vidas.

Não podemos fechar os olhos para a evolução. Não podemos frear o progresso. Se a mentalidade moderna exige este comportamento, não podemos ignorá-lo. O verdadeiro crescimento consiste em aumentar a bagagem de conhecimentos e experiências com uma base forte para sustentá-las. Se não houver raízes, não podemos crescer. Nem tudo poderá ser descartável.

A sustentabilidade das relações hoje em dia não está mais baseada em crenças e novelas. Também não está presa a leis ou religião. A responsabilidade e as atitudes são agora os determinantes de uma relação estável. A melhor maneira de algo ser duradouro é se renovando dia após dia. O segredo para um casamento eterno é descartá-lo logo após uma maravilhosa noite de amor, para reconquistá-lo na manhã seguinte. Descartar com consciência, conquistar com responsabilidade, amar com paixão. Um dia chegamos lá!
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domingo, 15 de junho de 2008

"Meus heróis morreram de overdose"

Um milhão de anos atrás, o mundo era bem diferente, e por incrivel que pareça, ainda carregamos certos traços e predileções herdadas de nossos antepassados. As emoções permanecem as mesmas desde que o mundo é mundo. Alegria, tristeza, raiva, amor, saudade, ódio foram sendo estudados, segmentados, refinados, mas a verdade é que em maior ou menor intensidade, sempre se fizeram presentes na humanidade.



Os homens das cavernas defendiam-se dos inimigos como podiam. Usavam mãos, pedras e ossos e só os mais aptos sobreviveram. Quando sobrava algum tempo, se acasalavam e procriavam. Alguém tinha que cuidar dos filhos pequenos, pois cobras, aranhas, ursos, lobos e até inimigos de outras tribos podiam atacá-los. O homem primitivo aprendeu que vivendo em grupo, poderia ter benefícios em relação a segurança, alimentação e acasalamento.


Os mais fortes eram destacados para as tarefas perigosas (caça, guerra, luta), enquanto os menos dotados fisicamente cuidavam das crianças, da alimentação, do fogo, da coleta de folhas e frutos. Os guerreiros eram respeitados e tratados como ídolos, ou até mesmo heróis, pois eram os responsáveis pela alimentação e segurança do grupo.


Enquanto os guerreiros lutavam, os que esperavam torciam pelo retôrno e sucesso dos lutadores, pois seu destino dependia deles. O sentimento ou a segurança de ter alguém mais apto, escolhido pelo grupo para defendê-lo dos inimigos invasores é a herança que trouxemos das cavernas.


Assim, escolhemos um time de futebol, que fará a representação de nossos guerreiros, e torcemos para que ele vença os inimigos invasores. Torcemos, aplaudimos, choramos, ficamos excitados e até agoniados mesmo sabendo que aqueles jogadores não são os nossos garotos, a nossa tribo. O que está em jogo não é a nossa sobrevivência. São apenas profissionais do esporte realizando seu trabalho e momentâneamente vestindo a camisa de um clube.


Escolher heróis que vão nos defender faz parte da história da humanidade. Quando crianças nossos pais são heróis e nos fazem dormir contando histórias de outros super-heróis. Mais tarde, escolhemos atletas, politicos, soldados, martires e outros personagens para torcer. Quase sempre torcemos pelo mocinho nos filmes, novelas e na vida. Os mais fracos e os injustiçados também ficam com uma parte dos votos. Torcer está em nossos gens.


O mais intrigante é que quase sempre somos incorporados por um sentimento de igualdade, familiaridade e amor por quem torcemos e desprezo pelos adversários,considerando-os como se fossem inimigos invasores querendo nos tirar algo precioso. Talvez isto seja um mecanismo de proteção para que não nos sintamos culpados por querer a derrota do inimigo.


Com o tempo, vamos descobrindo que nossos pais envelheceram, papai noel não existe, super homem é uma história de ficção, atletas são profissionais do esporte, politicos viraram carreiristas,ou, como dizia o poeta Cazuza, "nossos heróis morreram de overdose, nossos inimigos estão no poder".


O que aconteceu? Não se fazem mais super-heróis? Não estamos fazendo boas escolhas? Os invasores venceram a guerra?


A resposta está em nossas mãos. A genética continuará nos impulsionando a escolher novos representantes e torcer por eles. Ficar apenas torcendo para que nosso time e nossa escola de samba vençam é o mesmo que condenar nossos heróis a morrer antes de nascer. Os invasores percebem a alienação e tomam o poder.


Se quisermos reverter o quadro e vencer a guerra, temos que nos unir aos guerreiros que ainda restam e expulsar os invasores. Mas se quisermos ser heróis de verdade, precisamos não mais considerar os outros como invasores ou inimigos e querer derrotá-los. Heróis são aqueles que nos momentos mais difíceis, quando todos os seus iguais estão perdidos, resignados, alienados e derrotados, conseguem forças para lutar. Lutam por justiça, bem comum, solidariedade, liberdade, esperança...


Heróis de verdade não se regozijam com a vitória e morrem de overdose. Heróis de verdade não tem sede de poder. Heróis de verdade não torcem. Heróis de verdade agem.
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terça-feira, 27 de maio de 2008

Espelhos e Janelas



Depois de quinze anos atendendo no mesmo local, o médico decidiu modernizar sua clinica. Reforma geral, informatização completa, aparelhos de diagnóstico de última geração, aventais novos e até mudança de nome. Ao invés de Consultório Médico passaria a se chamar Clinica Estética.



Não se sabe como aconteceu nem quem foi o culpado, mas na campanha de divulgação da nova clinica, foram suprimidas as três primeiras letras, e a clinica estética se transformou em clinica ética. Com a correria e a ansiedade da inauguração, a falta das três letrinhas nem foi percebida.


Conforme planejado pela equipe de marketing contratada, o resultado da divulgação maciça na mídia foi um sucesso: agenda do médico lotada para os três primeiros meses. Festa de inauguração e satisfação total com a iniciativa de modernização da clinica.


Os pacientes foram chegando para as consultas e percebiam alguma coisa diferente na clinica. Estranhavam o fato de cremes anti-envelhecimento, pomadas contra celulite, loções para evitar queda de cabelo estarem expostos em vitrines iluminadas em neon. Qual a relação entre estes produtos e ética? O que o médico estaria tentando transmitir com todas aquelas revistas mostrando modelos e manequins com seus corpos esculturais?


O médico também passou a notar algo diferente em seus novos pacientes. A grande maioria não estava tão preocupada com a aparência. Alguns com barba por fazer, cabelos em desalinho, roupas fora de moda, mas o que mais chamava a atenção, era uma preocupação muito maior com o futuro do que com o momento presente.


De fato, estética em seu sentido atual, nos remete a pensarmos em beleza, mas seu significado original deriva do grego e nos remete a experiências sensoriais. Enxergar, tocar, escutar, cheirar, degustar. Sensações momentâneas, prazerosas ou não, mas essencialmente ligadas ao presente. Depois de um tempo, escapam de nossos olhos, bocas e mãos virando apenas lembranças de um passado. Estética assim como sensações não nos remetem a um futuro, estão ligadas ao aqui e agora.


Por outro lado, ética tem a ver com valores que persistem no tempo. Educação, honestidade, bondade, caráter, vergonha transitam tanto no presente como viajam ao passado e exploram o futuro. Qualidades não ligadas aos órgãos dos sentidos, não dependentes das circunstâncias externas, nem perdidas com o passar dos anos.


Todos os pacientes buscavam a beleza, alguns preocupados com o lado estético, outros com o ético. Esta dualidade ética/estética, uma constante na vida, talvez tenha sido uma armadilha do destino tanto para pacientes como para o médico, pois ambos foram surpreendidos por demandas que embora aparentemente conflitantes, acabaram por colocá-los na obrigação de refletirem sobre aspectos fundamentais da existência humana.


A preocupação essencialmente estética, pode ser muito boa, mas por ser ligada ao momento presente, é fugidia e logo vai se transformar em passado, deixando uma sensação de vazio, até que surjam outras sensações que as substituam. É uma corrida eterna, sem linha de chegada.


A preocupação essencialmente ética prega uma postura mais voltada para a esfera social, para a coesão, para os relacionamentos. O sentido da vida humana é encarado como algo mais duradouro e não apenas simples momentos de prazer interligados através do tempo.


Nenhuma das duas esferas é completa sem a outra. Somos presos ao presente, mas também queremos existir ao longo do tempo. Prazeres estéticos tem seu valor, mas existe espaço também para algo mais significativo e produtivo. O equilíbrio entre ética/estética é o grande desafio contemporâneo e como era de se esperar, mais dia menos dia, acabou por invadir pacientes, médicos e clinicas.
Ao modernizar seu consultório, sem que percebesse, o médico descobriu uma evolução no atendimento de seus pacientes. A partir do desaparecimento involuntário das três letrinhas, pode perceber que nem só de espelhos sobrevive uma clinica estética, são necessárias também janelas, para que se possa ver o que acontece fora de nosso corpo. E ao olhar para os outros, nos tornamos mais bonitos.
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terça-feira, 6 de maio de 2008

Cassino da Vida

Por que algumas pessoas sonham tanto em ganhar na loteria? Provavelmente porque imaginam que com o prêmio ganho suas vidas se transformarão. E a fantasia vai crescendo na medida da esperança e da capacidade de sonhar do apostador. Planejamento de viagens, compra de casa e carro novos, auxílio financeiro para familiares e amigos, festas... A mudança de vida destas pessoas está na dependência da sorte, do destino. Como num passe de mágica, sem o menor esforço, se transformariam em “príncipes e princesas”.



Outros são mais contidos e cautelosos e fazem planos de não contar para ninguém e nem mesmo ostentar sua nova fortuna por um tempo, até que o fato seja esquecido e daí então, poderão lentamente assumir a nova realidade e realizar seus sonhos. De qualquer maneira, estes também planejam uma mudança de vida, porém de uma maneira, digamos assim, disfarçada.


Por vezes, estes sonhos são a última esperança que restou de uma vida melhor e mais digna. Mas em última análise, o que significam estes sonhos?


Faça de conta que você foi o ganhador da mega sena. Pense honestamente o que faria com todo o dinheiro. Talvez seja difícil imaginar, porque é uma quantia muito grande. Além disso, é quase certo que você não teria tempo nem saúde suficientes para desfrutar de todos os seus planos. Provavelmente a maior parte seria investida em imóveis e aplicações financeiras. E você não consegue imaginar também porque esta vida principesca é um estilo de vida diferente do que você está habituado, e lá no fundo, você não tem certeza ainda se vai gostar mesmo de desfrutar desta nova vida. Para ter certeza, só mesmo vivendo e não sonhando.


Então chegamos ao ponto central da questão: talvez as pessoas sonhem em ganhar na loteria não para terem vidas principescas, mas simplesmente para mudarem a maneira como estão vivendo. O enredo básico dos sonhos se concentra em deixar de se esforçar para colocar a comida na mesa. Não mais fazer contas e economizar para a escola dos filhos, para a viagem nas férias, para o cinema no final de semana. E a partir desta premissa mágica, acreditar que todos os outros problemas se resolverão. Não precisarão mais acordar cedo nem aturar o patrão e o colega chato no trabalho, os filhos poderão estudar em escolas melhores e serão mais felizes, a mulher ou o esposo reclamarão menos e quem sabe alguns até sonhem em trocar de cônjuge. Em resumo, quando as pessoas sonham em ganhar na loteria, estão pensando mais no que vão deixar de fazer e sofrer e menos no que poderão fazer com todo o dinheiro ganho.


O erro na conta é que de cada milhão de pessoas, apenas uma vai ser beneficiada com este sonho mágico. Os outros 999.999 continuarão apostando e esperando que o destino os ajude. Preferem ter fé e acreditar que a sorte virá na próxima semana do que se esforçar para que a mudança aconteça por suas próprias forças.


Com a saúde, o raciocínio é parecido. Alguns ganharam na loteria e tem uma saúde de ferro. Não precisam se cuidar com a alimentação, com a mudança de temperatura, com o estresse. Nunca ficam doentes, aparentam bem menos idade, são esguios, estão sempre dispostos, não usam medicamentos e os exames laboratoriais estão sempre ótimos. Tiveram a sorte de possuír uma herança genética que os beneficiou. Mas de cada milhão, muito poucos podem abusar do destino e da saúde.


A grande maioria não herdou esta fortuna genética de saúde, mas acredita na loteria do destino. A mesma fé que leva um indivíduo a jogar na loteria com uma chance em um milhão de ganhar, também faz com que ele aposte que o destino vai mandar a doença para os outros e não para si, não havendo então preocupação nem esforço no sentido da prevenção de doenças. Para que tanto esforço com academias de ginástica, alimentação pobre em gorduras e carbohidratos, consultas médicas e odontológicas, exames laboratoriais periódicos, saúde mental se podemos acreditar que fomos premiados na loteria da saúde?
Novamente existe um erro na conta. Quem ganhar na loteria do dinheiro e da saúde, teoricamente não precisará mais fazer as coisas que não gosta e não precisará mais sofrer. Todos aqueles que perderem na loteria do dinheiro continuarão de uma maneira ou outra, levando a vida que sempre levaram, sem grandes mudanças. Por outro lado, aqueles que fizerem a aposta errada na saúde, mesmo que sejam saudáveis por um bom tempo, certamente ainda vão adoecer e sofrer, mas não tem bola de cristal para saber a data e o tamanho da dor. Talvez por conta desta imprevisibilidade, neguem e continuem fazendo de suas vidas um cassino.
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terça-feira, 29 de abril de 2008

MUITO ALÉM DOS MANUAIS

Adaptação de palestra realizada durante 24 jornada
sul-brasileira de cirurgia plástica em Gramado
abril - 2008

Quando fui eleito presidente da Sociedade de Anestesiologia do RS, uma de minhas metas era a mudança da imagem do anestesiologista. Todos nós já ouvimos as famosas frases: “não tenho medo da cirurgia, tenho medo da anestesia” , “tenho um vizinho que tem uma tia que ficou paralítica depois de uma anestesia na coluna”, “mal acordei e o anestesista já estava apresentando a conta de honorários”, “o anestesista é médico?”.

Comecei a mostrar aos colegas que a Sociedade de Anestesia poderia lançar uma campanha de mudança de imagem através de folders, outdoors, entrevistas no rádio e jornal, porém cada anestesiologista teria que fazer o seu papel, cada um seria o missionário nesta cruzada da melhoria da imagem. O modo como cada um atendesse seus pacientes, familiares, cirurgiões, seu relacionamento com hospitais, colegas, planos de saúde iriam formar uma imagem, que se refletiria em toda a categoria. Um mau colega põe a perder todo o trabalho de anos de uma especialidade.

E o mesmo acontece com a ética; os Conselhos Regionais de Medicina lançando códigos de ética, o governo decretando leis, são apenas uma parte do trabalho. Cada cidadão tem o seu papel e o seu dever ético com a sociedade.

Assim passei a esclarecer aos colegas que marketing não era apenas propaganda e publicidade. Marketing e ética devem andar sempre muito próximos, pois em última análise ambos vivenciam o comportamento diário, o relacionamento médico-paciente, o relacionamento anestesiologista-cirurgião, o relacionamento médico-familiares,o relacionamento médico-instituições, enfim, o relacionamento médico-sociedade.

Este trabalho cresceu, se difundiu para a classe médica como um todo, virou um livro “Marketing para médicos- um caminho ético”, e agora cresce mais um pouquinho, quando começo a falar de ética no dia a dia e como isto se reflete na profissão. Isto está virando um novo livro, a ser lançado daqui a uns dois meses :”Parabéns a você!”

Neste livro convido os leitores a refletirem sobre o que fizeram de suas vidas pessoal e profissional. Se no dia de seu aniversário, quando amigos e parentes cantam o “Parabéns a Você”, naquelas festas maravilhosas com garçons, champagne, este parabéns significa o orgulho do aniversariante e dos convidados pelas glórias alcançadas com méritos ou se lá no fundo a pessoa sabe que consciente ou inconscientemente teve algumas atitudes digamos assim, não muito corretas.

Todos nós sabemos o que é certo e o que é errado:
Dar atestados falsos
Praticar preços abaixo do mercado
Prometer resultados que não vai poder cumprir
Falar mal de colegas
Realizar cirurgias desnecessárias,
Dizer ao anestesiologista que cobrou X e na verdade cobrou Y, são atitudes incorretas.

O problema é que entre o certo e o errado existem zonas de nebulosidade, de obscuridade, e é justamente nesta zona de atuação que alguns colegas se aproveitam para levar vantagem, pois não atingiram ainda um comportamento declaradamente ilegal e por isto, gozam ainda da impunidade.A comissão de ética do senado se reúne por meses a fio, não consegue enquadrar um senador que vergonhosamente desviou dinheiro público em nenhum crime e acaba condenando-o por falta de decoro parlamentar. É uma vergonha. Mesmo não sendo ilegal, podemos dizer que no mínimo, são áreas perigosas de trânsito.

Os códigos de ética das várias profissões e os livros de leis surgiram para disciplinar as pessoas e não permitir que ocorram argumentações do tipo “os fins justificam os meios”.
- “Roubei para dar de comida ao meu filho que não tinha o que comer” , é um exemplo de justificativa inadmissível. A lei e a ética não permitem roubar nem pensar em roubar. O cidadão em questão deve pensar em outra alternativa para alimentar sua prole.
- “Coloquei aquele anúncio na televisão porque é um anuncio esclarecedor para a população a respeito dos benefícios da cirurgia plástica.” O Conselho Regional de Medicina regulamenta muito bem qual o tipo de anuncio que pode ser veiculado e qual não. E as leis e os códigos de ética surgem, quando o comportamento incorreto começa a ameaçar a sociedade de entrar em colapso. A lei vem para preencher o vazio. E quanto mais leis existem, isto sinaliza que menos ética é a categoria ou o povo. A simples obediência a lei não mede a grandeza de um categoria ou de um povo, o que mede é a obediência ao não exigível pela lei, aos princípios éticos, aos verdadeiros valores.

E que valores são estes? Antigamente os ladrões, tiranos, pervertidos morais, loucos eram chamados de anti-éticos. Hoje, pessoas normais, como eu, como vocês, teoricamente bem intencionados, corremos o risco de sermos taxados de anti-éticos, pois as mudanças estão acontecendo muito rápido e não vamos ter tempo de ler todos os manuais, nem mesmo tempo para pensar.

- Entra uma menina de dezoito anos no consultório, acompanhada da mãe e quer marcar uma cirurgia de prótese de silicone para o outro dia, pois tem uma festa. Detalhe: a família é muito influente na sociedade e tem muito dinheiro.
- Entra um paciente e solicita exames laboratoriais desnecessários pois quem vai arcar com os custos é o plano de saúde
- Entra um paciente no consultório acusando um colega de mau resultado
- Entra uma empresa financeira no consultório oferecendo financiamento e auxilio para conseguir novos pacientes
- Entra a empresa fabricante de próteses oferecendo comissão sobre colocação das mesmas

Ética é um modo de vida. Diz respeito a pensamentos, julgamentos, deveres. Há um ditado que diz “Deus está nas pequenas coisas”, o mesmo se pode dizer da ética, que trata das questões do dia a dia e de como tratamos as pessoas.

Como saber então como agir?
Como lidar com as situações mais difíceis em termos de pressão?
Como conviver em uma sociedade onde prevalece a máxima de “levar vantagem em tudo”?

Talvez algumas perguntas chave, perguntas que vão muito além dos manuais devam estar sempre em nossa mente, para quando surgirem questões como estas:
- Você teria vergonha na cara se lhe acusassem de ter agido desta maneira?
- Se isto acontecesse com você. Ficaria indignado?
- Isto é um ato desumano?
- É contra a lei?
- Você faria isto em público?
- Você se importaria se isto fosse manchete de jornal?
Se depois destas seis perguntas você ainda estiver em dúvida, recorra a uma última tentativa: - Você faria isto com seu filho?
Se mesmo depois de responder todas estas perguntas, ainda ficar em dúvida ou precisar consultar um manual para ter certeza, você deve estar naquela zona de obscuridade, muito perigosa de se trabalhar.

Ética na vida ou no consultório é uma decisão de vida. Não depende de circunstâncias externas, não depende de quem vai entrar no consultório, nem como, nem o que vão oferecer.

Ser ético não garante sucesso profissional , mas garante uma estrada, um caminho pavimentado para isto e certamente garante um sono tranqüilo.
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domingo, 6 de abril de 2008

Como calcular a sua idade

O cálculo da idade cronológica é simples: subtraia o ano que você nasceu de 2008 e poderá saber quantos anos você tem. Se quiser ser mais específico, poderá calcular inclusive os dias e minutos de sua existência. Infelizmente a maioria das pessoas mede a idade por este método, e a partir do resultado passam a fazer considerações generalistas.
Dizer que alguém tem 40 ou 50 anos de idade, significa apenas dizer que aquela pessoa está no mundo durante aquele período, nada mais. Existem outras medidas de idade, além da cronológica, que podem dar uma idéia mais precisa do perfil de um indivíduo do que simplesmente os anos de existência.



O tempo corre com a mesma velocidade para todos, mas nem todos o utilizam da mesma maneira. Cada indivíduo tem seu próprio calendário. O tempo que cada um passa dormindo, assistindo TV, trabalhando, comendo, escovando os dentes, fazendo amor, falando ao celular, fazendo exercícios, vai determinar como andará seu relógio biológico.


Existe também a idade emocional, que não pode ser medida de maneira precisa. Quando você sofre uma frustração na vida pessoal ou profissional, ainda reage da mesma maneira que fazia quando tinha sete anos de idade e o coleguinha lhe tirava seu brinquedo preferido? Fica emburrado, grita, chora, sai agredindo, pensa em vingança? Sua idade emocional corresponde a sua idade cronológica? Algumas pessoas envelhecem mais cedo justamente porque não amadurecem e passam a lutar desesperadamente contra os ponteiros do relógio. Não se assuste, não existe medida exata dos sentimentos, e este é um dos problemas atuais da humanidade: imaturidade emocional em vários graus. A boa noticia é que pode ser realizado um trabalho no sentido de uma evolução e amadurecimento.


Também a idade cultural necessariamente não acompanha a cronológica nem a emocional. Existem pessoas estacionadas culturalmente na infância enquanto outras estão décadas adiantadas no tempo. O mesmo raciocínio vale para a idade em termos de saúde e envelhecimento, que não é apenas dependente da passagem do tempo. Trinta por cento da saúde dependem de herança genética, enquanto os setenta por cento restantes vão depender de como cada um administra as 24 horas que lhe são oferecidas diariamente. Alguns são velhos aos cinqüenta, enquanto outros esbanjam vitalidade aos oitenta.


Tanto a idade cronológica como as aparências podem enganar. Um corpo esbelto e bronzeado não reflete o colesterol sangúineo, a taxa de açúcar, um processo inflamatório, os níveis de pressão arterial, a densidade óssea, etc.


Assim, podemos ter uma mesma pessoa com 50 anos de idade cronológica, aparência de 35, idade emocional de 15, cultural de 70, e em termos de saúde e envelhecimento corresponder aos cinqüenta anos cronológicos ou não.


Para que importa saber a idade afinal? O que a idade reflete? Quem criou estes parâmetros de tempo e de idade foram os homens, e a passagem do tempo não deve ser encarada como uma perda. Se todos os esforços se concentrarem na luta contra o envelhecimento, a derrota é certa.


A passagem do tempo deve ser encarada como uma conquista. O tempo nos dá a chance de amadurecermos, de cuidarmos de nossa saúde, de valorizarmos nossas qualidades, de termos até um certo carinho pelos nossos defeitos, de sermos livres para escrever a nossa história e de envelhecermos. Envelhecer não é preocupante, ser visto como um velho é que é o problema.
Daqui para a frente não tenha mais uma idade definida em anos, porque isto não exprime a realidade. Tenha a vida. Tenha como medida de sua existência a qualidade de vida desfrutada até agora e tudo o que ainda resta por viver. Meça a sua idade em qualidade e não em quantidade. Faça com que os anos que você está neste mundo não tenham sido apenas números, e sim vida.
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sábado, 22 de março de 2008

Nem sempre quem ganha o prêmio é o verdadeiro vencedor

Ao se aproximar o final do programa Big Brother, talvez alguns comentários sejam pertinentes. Por que as pessoas dão audiências fantásticas e ainda por cima fazem e pagam ligações para votar em quem querem eliminar do jogo? Vinte e cinco a trinta milhões de pessoas é a média semanal de ligações recebidas.



Estes reality shows da televisão, enclausuram pessoas em uma casa e deixam que o tempo se encarregue de leva-las a incômodos, constrangimentos, discussões, intrigas, divisões, agressões. Se isto demorar muito a acontecer, a direção do programa se encarrega sutilmente de organizar jogos, festas, competições que possam trazer emoção e audiência. É claro que também acontecem cenas de solidariedade, amizade, carinho, paixão, sedução, lealdade, que também são ingredientes para que não se troque de canal.


Cada semana se elimina um concorrente, e o vencedor do programa será o último que sobreviver . Aquele que a maioria da população decidir que deve levar o prêmio. Será que os tele-espectadores acompanham diariamente e votam porque acabam se identificando com algum concorrente ou com as situações que se apresentam? Ficam indignados e resolvem fazer a sua parte ligando para eliminar alguém do jogo? Qual seria o critério do voto? Bondade, esperteza, lealdade, beleza, pena, justiça?


Se os efeitos deste programa forem semelhantes aos do futebol, carnaval e circo, ou seja, dar alegria ao povo, aliviar as tensões e desviar a atenção dos assuntos realmente importantes, então a situação está ficando cada vez mais delicada, e a tendência em termos políticos e culturais é a pior possível.


Mas resta uma esperança. Se o povo conseguir ter a visão de que para ser vencedor não é necessário ser melhor que ninguém , e que não é necessário que outros saiam perdendo nem sejam aniquilados para alguém se sentir vitorioso, já estamos num bom caminho.


Se a função do líder da semana ao invés de indicar alguém para ser eliminado fosse a preocupação com o bem estar de todos sob sua responsabilidade, procurando soluções para as dificuldades provocadas pelas regras do programa, teríamos uma avaliação melhor de cada participante, pois são as atitudes e não o título que vão distinguir os verdadeiros lideres dos meros pretendentes. Liderança não significa privilégio e poder, e esta é uma das falhas conceituais do programa ao oferecer estas regalias em provas de resistência ou simplesmente em lances de sorte ou azar.


O sucesso ou a verdadeira liderança de uma pessoa é fazer ou dar algo para quem jamais terá condições de retribuir este favor. Se os participantes do programa, ou heróis como são chamados pelo apresentador, conseguissem mostrar que entraram no programa para fazer a diferença e mostrassem ao povo que é jogando limpo, sendo honesto, abaixando-se para levantar o que está caído , dando sem esperar retribuição, respeitando, perdoando, colocando-se no lugar do outro, estariam fazendo jus talvez não ao titulo de heróis, mas de modelos de comportamento e ética e talvez o premio não precisasse ser em dinheiro, pois vitórias não tem nada a ver com dinheiro, e nem sempre quem ganha o prêmio é o verdadeiro vencedor.
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quarta-feira, 12 de março de 2008

Eles simplesmente desistem

Nossos antepassados precisavam se movimentar para conseguir comida. Os homens caçavam e coletavam frutos, folhas, raízes e cogumelos. Nem sempre se conseguia sucesso na caça, mas quando esta ocorria, garantia alimento por alguns dias. A coleta, por sua vez, precisava ser diária. Isto exigia, em média, caminhadas de oito kilometros diários.

Além disto, comiam folhas, frutos e muito pouca gordura, pois os animais caçados eram magros. Não existia o açúcar. Consequência deste estilo de vida? Homens magros.



Mais tarde, o homem descobriu que poderia conseguir alimento sem se movimentar. Plantava e esperava para colher. Descobriu também o fogo, que passou a ser utilizado na preparação dos alimentos, amolecendo-os e facilitando a ingestão e digestão de fibras e carne. Abandonou a vida nômade e passou a se fixar no local da plantação, diminuindo consideravelmente as caminhadas do passado.


Aproveitou o tempo que utilizava caçando e coletando para ter idéias, e inventou a roda, o automóvel, o trator, o adubo, o telefone, o computador, a internet. A facilidade em se conseguir alimento se reduziu hoje a um telefonema ou um click no computador. A refeição que você sonhar estará em sua mesa, sem esforço algum, trinta minutos após a realização do pedido. A disponibilidade é muito grande.


Os homens passaram a viver em espaços cada vez menores. Trancados em apartamentos, mas com telefones, computadores, internet, orkut, MSN, que lhes possibilitam estar conectados com o mundo. Não é necessário mais levantar da cama para buscar o jornal na banca de revistas, ou ir até a caixa do correio ver a correspondência, ou visitar amigos para conversar, ou mesmo ir ao mercado fazer compras.


Qual a tendência com esta mudança no estilo de vida? Engordar. A obesidade está aumentando em todas as faixas etárias, todas as raças e em ambos os sexos. Já é considerada um problema de saúde pública.


Por que somos mais gordos que nossos antepassados? Será esta uma escolha nossa ou uma tendência da vida moderna? O fato de não precisarmos nos movimentar para conseguir alimentos e comunicação seria o responsável pelo aumento da obesidade mundial? Temos muito mais conhecimento e recursos que nossos antepassados para evitar a obesidade. Podemos comprar alimentos de melhor qualidade, freqüentar academias de ginástica, spas, e até mesmo ter academias dentro da própria casa. Por que continuamos engordando, apesar de comermos cada vez mais folhas e alimentos dietéticos?


Provavelmente não é por fome física que engordamos, mas por fome emocional. A maioria das pessoas come mais do que o necessário, e quase nunca se satisfaz. Comem e bebem como glutões, mas não desfrutam de nada. Gordos tem prazer em comer, e compensam suas angústias através da gula. Provavelmente a comida não é o problema, mas o sintoma.


E a ciência continua evoluindo e contribuindo para o aumento da obesidade. Desde que surgiram medicamentos para reduzir o colesterol, teóricamente a obesidade deixou de ser uma ameaça tão grande à saúde. Para que ser magro? É comum ouvir a explicação de um obeso satisfeito e feliz por se alimentar sem restrições e ter controlados os níveis de colesterol e triglicerídeos através de medicamentos. Este discurso é falho porque a obesidade termina por atingir vários órgãos possibilitando uma maior chance de desenvolver doenças como diabete, cálculo biliar, hipertensão, artrose e câncer.


Evidências sugerem também que adoçantes utilizados na dieta em substituição ao açúcar, podem levar a um aumento na ingestão alimentar, pois é o açúcar ingerido o responsável pela sensação de saciedade do organismo. Pode então se desencadear uma verdadeira compulsão por ingestão de doces dietéticos, com a ilusão de serem inócuos para a saúde.
Se nos acomodarmos, e não descobrirmos a origem da nossa fome, o resultado final já é conhecido: obesidade. As ofertas e facilidades empurram para este lado. Para cada kilo ganho, se perde algo. A saúde de uma pessoa depende em média 30% de herança genética, 20% das condições sócio-econômicas e os restantes 50% da maneira como se conduz a vida. Assim sendo, 50% do peso pode ser fruto de circunstâncias que escapam de nosso controle e a atitude tomada pode fazer diferença, mas nos outros 50% do peso que teoricamente são passíveis de controle, a tomada de atitude certamente irá fazer a diferença;. Noventa por cento das pessoas que fracassam na tentativa de controle da obesidade, não são de fato derrotados. Eles simplesmente desistem.
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