segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Até quando a satisfação é satisfatória?

A tendência do ser humano é desejar aquilo que não possui. Um carro novo, um doce, terminar a faculdade, alivio de uma dor, corpo esbelto, mulher do vizinho, etc. Por vezes, estes desejos até já foram satisfeitos e possuídos em algum lugar no passado, mas em outro contexto (o carro atual já foi novo há dois anos atrás, a dor de dente que tanto incomoda não existia antes, engordou 15 quilos no último ano), porém, no momento do desejo, o usual é não existir a posse.

Mesmo os desejos considerados anti-sociais e competitivos (morte de um inimigo, derrota do oponente nas eleições, vitória na competição) refletem uma situação ainda não vivenciada, não possuída na circunstância atual.

Entretanto, o fato de se desejar o que não se possui, pressupõe imaginação de uma situação futura. O ponto de partida para a previsão dos sentimentos futuros, basicamente se origina em sensações vivenciadas no presente ou no passado. Imagina-se que ao se satisfazer determinado desejo, a sensação de satisfação será de acordo com alguma experiência vivida no passado ou algo parecido com o presente, projetados para quando o desejo se realizar. E nem sempre, ou quase nunca, acontece desta maneira. Nossa bola de cristal para prever o futuro, quase sempre falha.

Quando compramos um novo par de óculos, comparamos como ficaríamos mais na moda com os óculos expostos na vitrine (futuro), do que com os óculos sem estilo que estamos usando (presente). Então compramos os novos e jogamos os velhos numa gaveta. Teoricamente deveríamos ficar satisfeitos e felizes, mas na prática nem sempre é assim. Logo começam a surgir fatos não previstos pela nossa imaginação: fizemos uma divida maior do que o planejado, alguém criticou o visual diferente, a armação do óculos é muito pesada, nossa visão ficou turva. E quando vemos, aquele desejo tão sonhado está nos dando mais incômodos do que prazeres. Como é possível sonhar tanto com algo, desejar e planejar durante tanto tempo a compra e quando alcançamos o objetivo e é chegado o momento de usufruir, não ficamos satisfeitos?

O problema é que aquele futuro imaginado não previu todas as situações. As situações imaginadas, baseadas no presente, puderam ser controladas durante o planejamento (momento presente) mas o que de fato aconteceu e não foi previsto (momento futuro), causou, neste caso específico, insatisfação com o resultado obtido.

Consideremos então o contrário: nossas previsões deram certo, ficamos satisfeitos e felizes com a compra dos óculos, ou melhor ainda, as coisas aconteceram melhor do que imaginávamos. Ficamos encantados. Mas até quando a satisfação será satisfatória?

Depois de alguns dias, já não comparamos mais os óculos novos com os velhos, e o prazer que sentimos com aquela comparação acaba se perdendo. Logo ficamos habituados aos óculos novos e então, passamos a fazer novas comparações e ter novos desejos.

Acontecendo conforme o planejado ou não, o destino final será sempre a insatisfação? Tudo é só uma questão de tempo? Será que a insatisfação é um mal a ser combatido?

Imagine se um aluno ao aprender a somar nos primeiros anos de escola se desse por satisfeito e não quisesse mais aprender as outras operações matemáticas, se os portugueses e espanhóis satisfeitos com suas terras não tivessem organizado expedições para descobrir o novo mundo, ou se ao inventar o computador o homem se desse por satisfeito. A busca do desejo é um fator determinante da evolução da espécie humana, e a insatisfação com os resultados obtidos desta busca também é uma alavanca no processo de evolução.

Devemos então buscar a satisfação ou a insatisfação? Depende. Estamos falando de fome, conhecimento, emoções, óculos novos...A busca desesperada da satisfação pode ser a causa da insatisfação. Segundo Pelet de la Lòreze, “Há mais pessoas desgraçadas pela falta do supérfluo do que pela falta do necessário.”

Por ser baseado em imaginação, e sujeito a falhas, algo planejado e projetado para o futuro, possivelmente, não será completamente satisfatório, e mesmo que seja, quando se alcança o sonho tão desejado, provávelmente já se estará num futuro, diferente daquele momento em que se teve o sonho, com outra cabeça e outras demandas, e seria no mínimo arriscado ousar tentar imaginar o grau de satisfação dos outros e de nós mesmos num tempo futuro.

Os questionamentos são muitos e as respostas não satisfazem completamente, mas resta ainda mais uma dúvida: Feliz é aquele que se satisfaz com aquilo que possui?
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